O ano de 2011 começou bem para a Dão Sul, que viu dois dos seus vinhos serem recomendados pela revista americana Wine Spectator no seu guia de compras para o mês de Fevereiro. No mesmo advance em que o tinto Meandro 2008, da Quinta do Vale Meão, é sugerido como Smart Buys (compra inteligente), com 92 pontos em 100, os tintos Cabriz 2008 (Dão) e Palestra (Douro) são apresentados como Best values (melhores valores), com 90 e 89 pontos, respectivamente.
Palestra é um vinho produzido pela Dão Sul na quinta duriense Sá de Baixo e destina-se, sobretudo, ao mercado de exportação. Nos Estados Unidos, custa 10 dólares, mais um do que o Cabriz, a grande marca da principal empresa do grupo Global Wines.
A sua notoriedade é enorme e o seu sucesso merecia ser estudado.
A marca Cabriz surgiu apenas em 1989, embora se tenha a ideia de que seria mais antiga, e em 2010 foi responsável pela venda de seis milhões de garrafas, incluindo brancos, tintos e espumantes. É um número de peso, até porque não se trata propriamente de uma marca de volume puro e duro. O segredo de tamanho sucesso tem a ver com a relação qualidade/ preço da marca, sem paralelo em Portugal. Quando se pensa em Cabriz, pensamos em vinhos bons e baratos. Há outras marcas de grande volume que também oferecem grande qualidade a preços sensatos, mas, na maioria dos casos, incidem apenas numa só referência. O vinho tinto Esteva, por exemplo, é um desses casos.
Mas Cabriz consegue estender essa boa relação a todas as suas referências, seja um branco, tinto ou espumante, seja um colheita ou um reserva.
Veja-se este Cabriz Touriga Nacional 2007. Custa 12,5 euros e é um vinho muito interessante, bem representativo das virtudes daquela casta, valendo bem o preço. O Dão é, talvez, a única região do país onde a Touriga Nacional consegue, só por si, fazer bons vinhos. Nas restantes, só em lote é que esta casta mostra todo o seu potencial.
Um exemplo: dos 14 Ferreirinha Reserva Especial (Douro) que a Sogrape já lançou, apenas um, o de 1992, foi feito só com Touriga Nacional e é o menos excitante de todos.
O Cabriz Touriga Nacional 2007 não integra o Top 10 da casta eleito pelo júri que participou na primeira conferência internacional sobre os vinhos portugueses, realizada em Dezembro, no Porto, mas não deixa de ser um vinho altamente recomendável. Quando se saca a rolha e se cheira o vinho é como se fôssemos levados à nossa infância e aos dias passados no pinhal a apanhar cogumelos ou metidos no meio das silvas a catar as amoras mais maduras.
Traz-nos lembranças da caruma de pinheiro (mais frescas) e de frutos silvestres (mais doces), de vinho novo, intenso e fragrante, de chocolate e alguma especiaria. Quando se bebe, recuperam-se algumas dessas sensações, ainda bem marcadas pela madeira. É um vinho volumoso, encorpado e com taninos vigorosos mas doces. Como diz o produtor no contrarótulo, "já se bebe com prazer, mas irá melhorar muito nos próximos 20 anos se for conservado adequadamente". Leu bem: 20 anos. Não é conversa de vendedor. Os vinhos do Dão são assim, duradouros, como poucos em Portugal. P.G.