Bento e Chapoutier são dois estetas do gosto, dois amantes da boa vida e da vida boa, onde se incluem paixões de vário tipo, como a alta gastronomia e os vinhos de mínima intervenção humana. O português cultiva as suas vinhas em modo de produção biológica, o francês pratica a biodinâmica. Michel Chapoutier é, de resto, o maior proprietário europeu de vinhas cultivadas segundo os princípios da agricultura biodinâmica. Além de parcerias em vários países, a empresa familiar que dirige - depois de, através do avô, ter afastado o pai da sua gestão e alterado radicalmente o estilo dos vinhos, salvando a casa da falência - possui vinhas nas regiões francesas de Cotês du Rhône e Roussillon e na Austrália. Cerca de 300 hectares no total. Em entrevista ao Master of Wine inglês Tim Atkin, Chapoutier apontou Portugal e a região australiana de Vitória "como os dois lugares mais excitantes do mundo no momento". E considera a Touriga Nacional uma casta tão boa quanto a francesa Syrah. Ora, este ex aequo 2007 é feito precisamente de Syrah (75%) e de Touriga Nacional (25%). O vinho estagiou entre 20 a 24 meses em barricas de carvalho francês, na sua maioria, presume-se, usadas. Presume-se porque a presença da madeira no vinho é discreta e primorosa. O que sobressai é uma vibrante frescura e mineralidade, que começa no nariz e se prolonga na boca sem hiatos. Há um lado vegetal, típico da Syrah, a marcar de forma encantadora o aroma, onde a fruta preta bem madura, algum café e especiarias como o caril acrescentam riqueza e complexidade. Na boca, apresenta uma textura aveludada e é incrivelmente fresco e elegante. Pode ser sugestão, mas sente-se no vinho uma pureza que parece vir da terra e um equilíbrio só possível de obter com uvas saudáveis e colhidas no ponto certo de maturação. Magnífico. PG