Durante a última cimeira da Nato, que decorreu em Lisboa, a Presidência da República ofereceu um jantar ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a mais alguns convidados e serviu-lhes o branco Cerro das Mouras Grande Escolha 2009, do Douro.
O vinho, produzido pela Quinta da Veiga, situada na margem direita do rio Douro, no concelho de Sabrosa, acompanhou um creme de ervilhas e uns medalhões de garoupa.
A escolha partiu de uma sugestão da Garrafeira de Campo de Ourique e mereceu a concordância da comitiva americana, que sujeitou o vinho a uma prova prévia. Para a Quinta da Veiga, propriedade de Maria do Céu Esteves, uma exdeputada socialista, foi a melhor publicidade que podiam fazer ao vinho. Mas a sorte dá trabalho e, se o vinho foi escolhido para ser servido ao homem com mais poder no mundo, é porque tem qualidade. E tem, de facto.
Proveniente de vinhas velhas de uma zona alta da região, é um branco magnífico e barato.
Fermentou em barricas de carvalho francês e foi sujeito a batonnage sobre as borras totais, o que explica as elegantes notas fumadas e a textura glicerinada do vinho. O aroma remete-nos imediatamente para a fruta doce mas com alguma acidez do Douro, sobretudo para os citrinos, as ameixas brancas e os damascos. Depois, quando se leva à boca, surge a grande surpresa. Em vez do esperado "calor" duriense, da quentura do álcool e da fruta, o que nos aparece de imediato é secura e austeridade. Depois a boca volta a engrossar, de forma sedosa e gorda, com a fruta e as notas da madeira, terminando novamente num registo mais contido, graças a uma acidez fina mas incisiva. O vinho comporta-se como uma cobra e esse registo é encantador, porque não faz concessões ao óbvio e cria surpresa. Um registo que reflecte, um pouco, a filosofia da Quinta da Veiga, que, ao contrário da maioria dos produtores durienses e do país, encara o vinho como um ser vivo em permanente mudança e que precisa de tempo para se mostrar. Daí a opção por sujeitar os tintos a vários anos de estágio antes de os lançar para o mercado. O último tinto Cerro das Mouras Grande Escolha, o topo de gama da casa, é da colheita de 2004 e está belíssimo (custa 28 euros na Garrafeira Campo de Ourique). Mesmo as segundas marcas, Murzelo e Casa das Mouras (ambos com uma excelente relação qualidade/preço), nunca saem com menos de dois anos de estágio. Os brancos são a excepção, porque é a lei do mercado e ninguém faz milagres. P.G.