Há uma nova marca de vinho do Dão no mercado. Chama-se Flor de Viseu Tradition e o primeiro vinho, um tinto da colheita de 2009, tem uma imagem que, não sendo "vintage", nos remete de imediato para os anos sessenta e setenta do século passado, quando os gloriosos vinhos do Dão exibiam rótulos onde o nome da região aparecia em letras garrafais.
De resto, a ideia da Lusovini, que engarrafa e comercializa o vinho, é recuperar um perfil vínico que foi caindo em desuso mas que deu origem a vinhos admiráveis e longevos. Vinhos pouco ou nada marcados pela madeira, finos, contidos e minerais.
Para fazer a associação do vinho com o outro grande produto da região, o queijo Serra da Estrela, foi acrescentado ao rótulo uma flor de cardo estilizada. A ligação da marca a Viseu pretende também colocar em destaque a capital administrativa do Dão, embora só uma parte das uvas seja proveniente daquele concelho, mais propriamente da freguesia de Silgueiros. O resto é adquirido a produtores de Nelas, Penalva do Castelo, Vila Nova de Tázem, Tondela e Carregal do Sal.
As castas são as tradicionais do Dão: Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz. O vinho não passou pela madeira e isso tem o risco de lhe poder retirar complexidade.
A opção foi produzir um vinho sem máscaras, que reflicta o valor intrínseco das uvas e dos seus locais de origem.
O resultado é muito interessante e o facto de o vinho possuir uma boa acidez assegura-lhe alguma longevidade. Talvez seja ambição a mais invocar comparações com os antigos e exaltantes vinhos do Dão. Mas há, de facto, pontos de contacto, a começar pela pureza e frescura mineral. Trata-se de um vinho cheio de nervo e elegância, com um aroma muito limpo de frutos vermelhos, bons taninos e um sabor bastante agradável.
A acidez está equilibrada, dando vivacidade ao conjunto sem provocar sensações acerbas e de verdura. Mais do que um vinho de guarda, constitui, desde já, uma boa proposta para a mesa. Pelo menos na sua valia gastronómica, o Flor de Viseu honra bem a fama e o mérito dos tradicionais vinhos do Dão.
Pedro Garcias