Para quem vive no Douro e está ligado ao vinho, o nome Vermiosa é bastante familiar. Trata-se de uma freguesia do concelho de Figueira Castelo Rodrigo (Beira Interior) que, nos anos de pouca produção na região do vinho do Porto, abastecia clandestinamente alguns intermediários e adegas cooperativas durienses menos escrupulosos.
A freguesia faz quase fronteira com o Douro e as suas vinhas são altamente produtivas, pelo que a tentação de comprar uvas baratas para preencher as necessidades de produção, sobretudo das categorias mais baixas de vinho do Porto, chegou a ser muito grande. Nos últimos anos, essa tentação esbateu-se, uma vez que o Douro produz bastante mais do que as suas necessidades e as uvas atingiram valores quase ridículos.
A nova realidade levou alguns produtores da Vermiosa a encarar o negócio de maneira diferente e a procurar vinificar as suas próprias uvas, antes destinadas à cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo e ao mercado negro. Um deles foi a sociedade Óscar de Almeida Lda, uma empresa familiar que, há meia dúzia de anos, começou a comercializar os seus próprios vinhos com a marca Versus, embora continue a vender uma boa parte das uvas.
A área de vinha não chega aos 30 hectares e a produção anual ultrapassa as 200 toneladas, quase o dobro da produção média da vizinha sub-região do Douro Superior. A empresa vinifica apenas um terço, comercializando um vinho rosé, um branco e um tinto.
A Fugas provou o Versus Rosé 2009, o Versus Síria 2009 e o Versus Tinto 2007. O primeiro (4 euros), feito de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Barroca, tem um aroma simples mas atractivo, com predomínio das notas de morango, um bom volume de boca e uma interessante secura final. Pena que seja demasiado maduro e pesado, o que o recomenda apenas para acompanhar certas comidas e não como vinho social.
O Versus Síria (4,90 euros) é um branco mais agradável e equilibrado, feito a partir da casta mais representativa da região e que origina vinhos aromáticos e frescos, beneficiando da elevada altitude do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Este 2009 tem boa intensidade aromática, estrutura razoável e uma frescura generosa que atenua os 13,5% de álcool.
O Versus Tinto 2007 repete o álcool dos anteriores (curiosa esta fixação nos 13,5%) e o lote é o que domina no vinho do Porto: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Barroca. Mas as semelhanças começam e acabam aqui. O vinho do Porto evoca fruta preta madura, concentração, calor, doçura. Este Versus oferece fruta vermelha pouco doce (a par de algum apimentado), elegância, discrição e bastante frescura. Os taninos são bem evidentes, mas não castigam a boca, e a madeira está muito bem integrada. O final, não sendo muito longo, é vibrante, graças a uma acentuada acidez.
Não é, em resumo, um vinho consensual. Desagradará certamente a quem aprecia vinhos mais maduros, volumosos e estruturados, mas fará muito boa figura junto de quem procura vinhos mais contidos, elegantes e frescos. É barato e tem ainda o aliciante de mostrar que o país vinícola é maior e mais diversificado do que se pensa.
Pedro Garcias