Picos do Couto não é uma marca de vinho com história no Dão. Na verdade, trata-se de um vinho de empresário, e não há nada de negativo nisto. Nasceu como mais um investimento do grupo Tavfer, sediado em Carregal do Sal e com interesses em várias áreas de negócio, desde o turismo à metalomecânica, passando pelo imobiliário e pela inspecção de automóveis.
O grupo, propriedade do empresário Fernando Tavares Pereira, congrega dezenas de empresas e a entrada no mundo do vinho ocorreu há menos de 20 anos, com uma produção quase artesanal na Quinta dos Picos do Couto, no concelho de Tábua. A aposta a sério deu-se em 2005, com a aquisição da Quinta do Serrado e da Quinta do Mosteiro, em Penalva do Castelo. Pouco tempo depois, o empresário comprou três quintas no Douro Superior, na zona de Foz Côa, onde tenciona construir uma nova adega.
A aposta parece ter sustentação económica, pela dimensão e rapidez dos investimentos. Por agora, a maioria dos vinhos ainda se situa num segmento pouco apelativo para os enófilos mais exigentes. Não quer dizer que sejam maus vinhos. Tendo em conta o baixo preço de alguns, sobretudo os colheitas da Quinta do Serrado, branco e tinto, que custam três euros, são até bastante atractivos.
Na verdade, o mercado pede cada vez mais vinhos destes, simples e baratos. Mas o prestígio de uma casa faz-se com vinhos mais elaborados e exigentes. Fernando Tavares Pereira também tem os seus topos de gama e, embora as propriedades do Douro tenham imenso potencial, esses vinhos de um patamar mais elevado são provenientes do Dão, em particular da quinta onde tudo começou, em Tábua. Na Quinta do Serrado, vale a pena salientar os Reserva tintos (9 euros) e o monocasta Touriga Nacional (12 euros).
Mas concentremo-nos nos vinhos de Tábua. É daqui que sai o interessante Picos do Couto Espumante Bruto (feito de Alfrocheiro e Touriga Nacional e muito cativante de aroma e sabor) e o Picos do Couto Grande Escolha Tinto 2007, o vinho em destaque esta semana.
A composição é a tradicional - Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen e o vinho passou 18 meses em barrica. Ainda está cheio de fruta preta, bem associada com sugestões campestres (flores, terra) e balsâmicas. Volumoso, confirma na prova de boca a boa fruta e a (excelente) frescura que sobressaem no aroma, revelando também uma bem vincada e polida estrutura de taninos.
Há melhores vinhos no Dão? Há, claro. Mas este não fica nada mal na fotografia geral da região. No seu segmento (custa 14 euros), até fica muito bem.
Pedro Garcias