Quando o universo dos vinhos de mesa portugueses era ainda uma ínfima parte do que é hoje, a casa de Valle Pradinhos assumia um papel de destaque no panorama nacional. Embora localizada numa zona marginal, junto a Macedo de Cavaleiros, já perto das terras frias de Bragança e já um pouco longe da paisagem quente do Douro, foi ganhando um capital de respeito e de admiração só ao alcance de poucos.
Os seus vinhos, feitos inicialmente por João Nicolau de Almeida, actual responsável máximo da Ramos Pinto, e mais tarde continuados por Rui Cunha, distinguiam-se da generalidade dos vinhos produzidos pelos vizinhos do Douro e aproximavam-se mais da elegância e delicadeza típicas de certos vinhos franceses. A isso também não era (não é) alheio o facto de naquela propriedade conviverem castas nacionais com outras internacionais, como o Cabernet Sauvignon nos tintos e a Gewürztraminer e o Riesling nos brancos. Mas o que fazia verdadeiramente a diferença era a localização das vinhas, a mais de 600 metros de altitude, e a sua exposição, muito virada a sul.
Nos últimos tempos, porém, algo tem vindo a mudar naquela casa. Os brancos estão mais aromáticos e os tintos mais alcoólicos. Claro que nem todos os anos são iguais. Mas veja-se este Valle Pradinhos Tinto 2007. O ano foi um dos mais frescos da década e, no entanto, o vinho apresenta um volume alcoólico de 14,5%.
Este volume de álcool só não é problemático porque está bem suportado numa bela acidez. Mas esta já não predomina sobre o álcool com o antigamente - a diferença está aqui. Seja como for, o "estilo Valle Pradinhos" ainda permanece, sobretudo na prova de boca, onde o vinho apresenta um corpo avantajado mas de impacto suave e elegante, com taninos muito sedosos mas bem evidentes e um final longo e fresco. O aroma é também muito excitante, com boa presença de fruta silvestre e um delicioso toque apimentado.
Resumindo: os tintos de Valle Pradinhos mantêm-se muito prazenteiros e elegantes e, sobretudo os tintos, continuam a ser um valor seguro, como este de 2007. Mas já não surpreendem tanto como noutros tempos. Hoje, o espectro de comparação é muito mais vasto e o nível de exigência é também muito maior. Pode ser por isso.
Pedro Garcias