Um branco acima de todas as modas. O universo do vinho é mais volátil do que os aromas e só isso pode explicar a razão pela qual os vinhos brancos com madeira, que há um par de anos viviam os seus dias de glória, estão agora a ser vistos como criações fora da moda.
Entendamo-nos: há nesta mudança de padrão dos gostos dominantes um sentido, ou uma coerência, se preferirem. De acordo com esse processo, o tempo dos vinhos carregados, super-extraídos, com muito álcool, cor e volume de boca está a acabar; agora, um pouco por todo o lado, o que prevalece é a apologia da elegância, do baixo teor alcoólico, da frescura, ou, por outras palavras, o elogio aos vinhos que não cansam na boca nem fustigam tão intensamente a mente.
Mas, mesmo que aceitemos como positiva a tendência, se cairmos na tentação de a olhar de forma radical acabaremos por cometer o pecado de passar ao lado de alguns grandes tintos e, principalmente, de alguns magníficos brancos. Como é o caso deste Vértice. Porque se é óbvio que a sua enologia não se baseia no receituário da moda, o uso de madeira ou da batonnage para lhe conferir densidade e volume acabam por lhe garantir outras propriedades que não deixam de provocar grande prazer. Claro que no mercado o leitor terá muitas alternativas de brancos, leves e frescos, para um final de tarde de praia; mas se quiser uma boa companhia para um majestoso peixe assado com gordura q.b., então terá de pensar num branco desta estirpe e, entre as escolhas pré-definidas, fará bem em considerar o Vértice de 2009 como uma escolha séria.
Conhecida principalmente pelos seus espumantes de referência, a marca Vértice alargou há alguns anos o seu portefólio para os tintos e os brancos do Douro. Nos tintos, deu origem a vinhos de grande complexidade e elegância e conseguiu até produzir um dos melhores vinhos da colheita de 2005. Nos brancos, a experiência de décadas na criação de espumantes permite ao enólogo Celso Pereira dispor de um conhecimento privilegiado das boas vinhas com castas brancas para poder seleccionar lotes de alta qualidade. Nos últimos anos, o Vértice Grande Reserva abraçou sempre vinhos de bom nível; mas foi em 2009 que a marca conseguiu a sua melhor criação. Um branco imponente, no qual uma bela cor com laivos dourados e o aroma intenso no qual a barrica se conjuga bem com as notas exóticas da fruta antecipam uma prova de grande nível. Cremoso na boca, com boa acidez cítrica, notas resinosas do casamento com a madeira, é um branco de grande profundidade e elegância. Uma prova, afinal, de que, no mundo do vinho há lugar para todos os estilos desde que os vinhos sejam como este Vértice.
[Manuel Carvalho]