O vinho, proveniente de vinhas muito velhas dispostas em socalcos, segue a tradição de blend da região, pois resulta de uma grande mistura de castas.
Álvaro Martinho é um poeta da vinha e da vida campesina. Toca e canta num grupo amador de raiz popular e faz o seu vinho, o tinto Maquia. Num projecto e no outro, coloca a mesma paixão com que tem vindo a alindar a imponente Quinta das Carvalhas, da Real Companhia Velha, no Pinhão, recuperando como um ourives vinhas antigas, muros, caminhos e miradouros e embelezando todos os recantos com árvores e flores. Responsável pela viticultura da mais emblemática quinta da família Silva Reis, Álvaro Martinho consegue aliar ao pragmatismo económico da empresa uma visão idílica e sustentável das vinhas e da sua envolvente.
A aventura pessoal na produção de vinho começou em 2008, a partir de uma parceria com Dirk Niepoort. Álvaro explora, por arrendamento, umas vinhas velhas na Cumieira, no concelho de Santa Marta de Penaguião, e vinhas velhas, povoadas de inúmeras castas, foram sempre motivo de fascínio para Dirk. Após algumas conversas sobre "a originalidade da viticultura duriense" e a necessidade de "preservar um património que resulta de uma longa aventura de humanização", os dois avançaram para uma parceria: Álvaro é o dono da marca, trata das vinhas e cede as uvas, a Niepoort, através do enólogo Luís Seabra, faz o vinho e comercializa uma parte da produção.
O ano de arranque, 2008, foi bom no Douro. O vinho, proveniente de vinhas muito velhas dispostas em socalcos, segue a tradição de blend da região, pois resulta de uma grande mistura de castas. Desde a conhecida Touriga Franca às esquecidas e abandonadas Malvasia Preta e Cornifesto, leva de tudo um pouco.
As uvas foram desengaçadas sem esmagamento e a fermentação decorreu em cubas de inox com muito pouca extracção. O vinho passou depois 18 meses em barricas usadas de 500 litros.
Pela cor, mas não só, é um tinto com algumas reminiscências do Charme, o grande vinho de Dirk Niepoort, muito estilo Borgonha, pela delicadeza, complexidade e frescura que revela. O Maquia não seguiu o mesmo processo de vinificação, nem passou pela mesma madeira de qualidade do Charme, mas é igualmente bastante mineral e complexo. O aroma está mais próximo do perfil típico dos vinhos do Douro, com muita fruta e sensações apimentadas. Na boca é diferente: em vez de opulência e densidade, encontramos volume e delicadeza, harmonia e intensidade, taninos cordatos e acidez refrescante. Chega a parecer um vinho simples, mas não é: muito saboroso, tem a enganadora simplicidade das coisas boas e bem feitas.