Um branco do Dão muito bom e barato
O ano de 2010 foi excelente para as melhores castas brancas do Dão, em particular para o Encruzado, uma das poucas variedades portuguesas que vão bem tanto em inox como em madeira.
Dá origem a vinhos elegantes, maduros, muito minerais e ácidos e que envelhecem admiravelmente. São vinhos, aliás, que ganham com o tempo, pois, enquanto novos, o seu aroma costuma ser discreto.
É uma casta tão boa que faz um grande vinho sem precisar de companhia. Mas, no Dão, ainda não são muitos os produtores que apostam em vinhos estremes de Encruzado. O mais comum é produzi-lo em associação com outras castas, como a Bical, a Malvasia Fina ou o Arinto.
É o caso do produtor Jorge Almeida F. Reis, da sub-região de Silgueiros, cujo branco Vinha de Reis 2010 junta Encruzado, Bical e Arinto em partes iguais. É um branco com fermentação parcial em barricas novas de carvalho francês e três meses de batonnage.
A colheita de 2009 já tinha deixado algumas boas indicações, embora pecasse por um excesso de madeira, que tornava a prova de boca um pouco pesada. O vinho de 2010 tem uma acidez muito mais expressiva, fruto, talvez, da inclusão no lote da casta Arinto, em detrimento da Malvasia Fina, e a madeira pesa menos. Na verdade, pesa pouco, porque a acidez amacia as notas de barrica. O que sobressai é uma bela textura de boca, gorda e muito mineral, que deixa agradáveis sensações gustativas e uma frescura imensa. O aroma é perfumado e fresco, cheio de sugestões cítricas e algum tropical.
Não é branco para aperitivo. Exige comida substancial ou com alguma gordura. O seu preço é magnífico. Pode ser encontrado em algumas garrafeiras, como no El Corte Inglés, por exemplo, a 6,59 euros, o que não deixa de ser extraordinário, tratando-se de um vinho bastante bom e com fermentação parcial em barricas novas.
Pedro Garcias