O segredo desta estratégia delineada por Nuno Cancela de Abreu (que deixou o cargo de director-geral da empresa no ano passado) e apoiada pela família Lopo de Carvalho, que detém a totalidade do seu capital, não está na invenção de grandes conceitos, nem na aposta na criação de vinhos estratosféricos no preço e nos atributos. Se há um denominador comum no seu portefólio é a consistência e a preocupação em ajustar o que fazem ao gosto dominante que privilegia vinhos macios, volumosos, frutados e fáceis de beber. Sem as condições naturais do Douro ou do Dão para fazer vinhos para a categoria acima dos 95 pontos da Wine Spectator, a Alorna investiu a sério num princípio sagrado: o que um apreciador pagar será sempre um preço sensato e justo face às ofertas do mercado.
Tome-se como exemplo o Marquesa da Alorna, um branco com madeira da temporada de 2009, para se constatar esta realidade. Não é um vinho barato, mas vale a pena. Porque é um branco com uma enorme harmonia entre as suas componentes de fruta e acidez, com um corpo sedoso mas seco e vibrante e uma paleta de aromas à qual a madeira confere profundidade e complexidade. É possível encontrar ali a tensão da casta Arinto e a solenidade da Chardonnay, as variedades que fazem um outro branco da casa também ele muito recomendável, mas na fórmula deste Reserva entram outras componentes que lhe conferem outra estatura. Em síntese, este belo branco do Tejo é um vinho distinto, que conjuga bem elementos do Novo Mundo (a expressão da barrica é neste particular evidente) com uma acidez fresca e seca que lhe confere personalidade e elegância. Um belo vinho da autoria de Marta Reis Simões que há-de ganhar com um par de anos na garrafa.
Manuel Carvalho