A planura e o clima alentejano, salvo algumas excepções, são mais propícios a vinhos de perfil mais "Novo Mundo", frutados, macios e imediatos, do que a vinhos distintos, originais e de longa guarda. Ora, não são esses vinhos bem feitinhos que dão notoriedade e relevo a uma casa. Podem dar dinheiro, mas não dão fama. A Quinta da Leda, por exemplo, está ligada a vinhos míticos como o Barca Velha ou o Ferreirinha Reserva Especial, para além de outros igualmente notáveis, como o Quinta da Leda ou o Vinha Grande. Carvalhais não tem a mesma história, mas os seus brancos de Encruzado e Colheita Seleccionada e o tinto Carvalhais Único são referências no Dão. Num caso e no outro, o que distingue os melhores vinhos é a criteriosa selecção de uvas e barricas e o tempo que é dado ao vinho. A Herdade do Peso já produzia alguns belos tintos, mas nenhum capaz de integrar a elite dos grandes vinhos do Alentejo. A partir deste ano, com o lançamento do tinto Ícone 2007, Miguel Pessanha, o homem forte da Herdade do Peso, já pode ambicionar fazer parte desse clube restrito. Ainda é cedo para o dizer, mas a Sogrape pode ter encontrado o seu "Reserva Especial" do Alentejo. Não é um novo "Barca Velha", porque este precisa quase de uma década para ser lançado no mercado. O Ícone demorou apenas quatro anos (18 meses em barricas novas e o resto do tempo em garrafa). Percebe-se a pressa: a Sogrape e os seus responsáveis precisavam de mostrar que a Herdade do Peso também pode produzir vinhos lendários. O futuro o dirá se o novo Herdade do Peso Ícone, que só será produzido em anos excepcionais, tem esqueleto para aguentar a prova do tempo. As premissas são excelentes. É um vinho de lote, embora com primazia do Alicante Bouschet, a melhor casta alentejana, que aporta aromas muitos perfumados, grande volume e estrutura delicada. O bouquet ainda é dominado pela fruta negra madura, mas já denota excitantes influências da madeira e da evolução, seja pela presença de notas especiadas e mentoladas, seja pelas sugestões de tabaco. Sedutor no aroma, dá ainda mais prazer na prova de boca, onde se mostra um vinho altivo, volumoso e cheio de finesse e frescura, com taninos de veludo e uma acidez bem balanceada, deixando um rasto saboroso e longo. Já está um grandíssimo vinho, mas ganhará complexidade e delicadeza com o silêncio da garrafeira.