O concurso dos melhores vinhos da Essência do Vinho de 2010, realizado no Porto, trouxe para a ribalta o vinho duriense Quinta dos Avidagos Grande Reserva 2007, eleito o segundo melhor vinho tinto do certame e à frente de marcas consagradas como o Charme ou o Vale Meão. Para um vinho que começou a ser feito apenas em 2005, a distinção soou a grande feito.
Mas a Quinta dos Avidagos não é um produtor qualquer. Pode não ter ainda a notoriedade e a patine de outras casas do Douro, nem uma história muita longa na produção e comercialização de vinho. No entanto, se olharmos para as suas propriedades percebemos de imediato que os seus vinhos não são bons por acaso.
Quem passa na Régua, dificilmente não repara no ícone da Sandeman, o Don, o homem de capa preta pousado no topo de uma colina na margem esquerda do Douro. O mais óbvio é pensarmos que aquela quinta, vizinha da Quinta da Pacheca, pertence à Sogrape. Mas não. Chama-se Quinta da Varanda e é uma das quatro propriedades do universo da Quinta dos Avidagos, da família Nunes de Matos.
A Quinta da Varanda, situada mesmo sobre o Douro, é uma das mais antigas da região. Foi adquirida por aquela família em 1685. É a jóia da coroa da firma, mas a casa principal e a adega ficam na Quinta dos Avidagos, situada a cerca de cinco quilómetros de distância, na aldeia de Alvações do Corgo, no concelho da Régua. As outras duas propriedades são a Quinta do Torrão, situada mesmo junto à ponte que liga o concelho de Lamego à Régua, e a Quinta da Fírvida e Além Tanha, junto a Alvações do Corgo.
No seu mapa do Douro vinhateiro de meados do século XIX, o Barão de Forrester já assinalava a presença das quintas da Varanda, Torrão e Fírvida. A Quinta dos Avidagos surgiu mais tarde e só chegou à família Nunes de Matos em 1978. Ao todo, esta família possui 65 hectares de vinha, entre plantações novas e antigas.
Até meados da década passada, a produção era vendida para a Gran Cruz. Os primeiros vinhos próprios surgiram em 2005, sob a orientação do enólogo Rui Cunha e já com Pedro Tamagnini, sobrinho de Nunes de Matos, à frente da empresa.
O Quinta dos Avidagos Grande Reserva é o grande vinho da casa. É feito de Touriga Nacional (75%) e vinhas velhas (25%). Rivaliza com o Quinta de Além Tanha Grande Reserva (75% vinhas velhas e 25% de Touriga Nacional), a outra marca da empresa. Possuem ambos 15,5% de álcool, o que os coloca um pouco fora de moda. São o Douro em versão "hot". A colheita de 2007 do Quinta dos Avidagos era ainda mais alcoólica (16%) e isso não impediu que tivesse grande sucesso mediático.
São vinhos muito extraídos, cheios de fruta silvestre e do pomar bastante madura, compotada até, e com aromas típicos do vinho do Porto acabado de fazer. Não é um estilo fácil, embora na prova de boca revelem um volume e uma estrutura de taninos formidáveis, grande profundidade e comprimento e um bom compromisso entre o álcool e a acidez.
Em relação ao 2007, o Quinta dos Avidagos mantém a mesma intensidade e complexidade aromática, mas parece menos fresco e o álcool nota-se mais, apesar de ser inferior. Graças ao predomínio da Touriga Nacional, está mais perfumado e definido do que o Quinta do Além Tanha Grande Escolha. Em contrapartida, este está mais austero e fechado, mas cansa menos.
Com as suas diferenças, não deixam de ser dois grandes vinhos. O primeiro tem perfil para impressionar mais em prova cega, o segundo precisa de tempo para revelar todo o seu potencial. O único grande senão de ambos é o preço (36 euros o Quinta dos Avidagos, 24 euros o Além Tanha). Muito melhor na relação qualidade/preço é o Quinta dos Avidagos Reserva 2008, um belíssimo vinho com um volume alcoólico civilizado (13,5%) e um preço muito bom (8,99 euros).
Pedro Garcias