Uma fantástica frescura cítrica, tanto no nariz como na boca volumosa.
Anda toda a gente preocupada com o excesso de álcool nos vinhos, em especial os críticos. Peroram contra o excesso de álcool e também da madeira, criticam os preços altos, apregoam em favor dos vinhos delicados, elegantes e baratos. Mas quando vamos ler as críticas, cá dentro e lá fora, as melhores pontuações vão geralmente para os vinhos densos, encorpados, com estágios longos em barrica e caros. Há uma clara contradição.
O preço sempre influenciou o consumidor. É assim em todas as áreas de negócio. Se é alto, é porque o produto é bom. Nos vinhos, o preço é geralmente um indicador de qualidade. Mas há excessos e há também vinhos que, por surgirem com um preço muito atractivo, são penalizados. Vem isto a propósito de dois vinhos do Dão lançados recentemente pela Borges, o Reserva Branco 2009 e o Touriga Nacional 2009. O branco tem uma graduação de 14,5%, estagiou em madeira e custa 11 euros. O tinto tem 13,5% de álcool, também passou pela madeira e custa 15 euros. As garrafas são simples. Não são vinhos muito badalados e a graduação do branco coloca-o, à partida, um pouco fora de moda.
No entanto, se tivessem uma melhor roupagem e uma melhor “narrativa” por trás, com um preço ainda mais alto, seriam ambos provavelmente colocados nos píncaros. O tinto é um vinho que espelha de forma exemplar o grande potencial da Touriga Nacional no Dão. Esta é a região do país onde aquela casta mais brilha sozinha. No Douro e noutras regiões precisa de companhia. No Dão, a Touriga Nacional faz por si só um belo vinho. Um vinho de álcool contido e com complexidade aromática, estrutura, delicadeza, elegância, frescura e persistência. É o caso deste tinto da Borges. Vale bem quanto custa.
O branco é ainda mais surpreendente e coloca em crise as ideias feitas sobre o excesso de álcool (até por quem escreve, como é o nosso caso). Um volume de 14,5% de álcool para um vinho branco é, aparentemente, excessivo. No entanto, prova-se este reserva e não sente esse peso.
O que se sente é uma fantástica frescura cítrica, tanto no nariz como na boca volumosa. Não só, claro. As notas de madeira são bem evidentes, mas surgem em grande equilíbrio com o álcool, a mineralidade do vinho e a natureza ácida da fruta. Há um balanço virtuoso em todos os elementos e a sensação que prevalece é de frescura, fornecidas pelas notas limonadas minerais e pela acidez muito viva. Um belíssimo vinho com um excelente preço.
(Pedro Garcias)