Acontece que o Soalheiro que se bebe em Janeiro não é o mesmo Soalheiro que se bebe no Verão ou mais tarde. O vinho até pode ser o mesmo, mas os engarrafamentos devem diferir, pois, por norma, o primeiro lançamento nunca é tão bom. Os vinhos chegam, por vezes, ainda um pouco crus e com excesso de sulfuroso.
É um risco ditado pelas circunstâncias actuais do negócio. Mesmo deprimido, o mercado procura novidades e quem chega primeiro às prateleiras ganha vantagem. A ânsia do imediatismo é tal que há produtores que já começam a lutar pelo título de “o primeiro vinho do ano”. O Soalheiro não sai no próprio ano de vindima, mas começa a ser comercializado cedo, quando o tempo frio ainda pede mais vinhos tintos do que brancos.
Em relação ao Alvarinho 2011, ainda não passou um Inverno por ele, como a sabedoria popular exige aos vinhos, e isso nota-se. O aroma não está completamente depurado e o vinho ainda deixa um ligeiríssimo travo gasoso (perceptível sobretudo no palato). Mas, valha a verdade, isso é coisa pouca, comparado com a imensa elegância, vivacidade e frescura que revela. É um vinho expressivo e vibrante que inebria e humedece o palato com o mesmo frescor da água que brota debaixo do granito. Um frescor mineral que tem ainda a virtude de contrabalançar o lado mais tropical do aroma (maracujá, sobretudo).
Não havendo um contra-peso na prova de boca, essa expressividade aromática, de cariz agridoce, poderia revelar-se excessiva. Mas, como sempre, o Soalheiro consegue um bom compromisso entre a componente olfactiva, de grande impacto, embora óbvia e fácil, e a vertente gustativa, mais contida e, sobretudo, deliciosamente fresca. Resumindo: temos vinho, embora valha a pena esperar mais alguns meses para perceber o seu verdadeiro valor.
(Pedro Garcias)