A única utilidade foi encontrar um termo de comparação para qualquer um dos vinhos. Provando-os lado a lado, é mais fácil perceber o valor de um e de outro. Mas é preciso relativizar as conclusões. Desde logo porque são dois produtores diferentes, com métodos de vinificação e estágio distintos, e, acima de tudo, porque as castas usadas, sendo brancas, não são iguais. O Moscatel que se produz no Douro é da variedade Moscatel Galego, de bago pequeno. O Moscatel de Setúbal equivale ao Moscatel Graúdo (de bago mais graúdo, portanto), também conhecido como Moscatel da Alexandria. Há ainda o Moscatel Roxo, que corresponde a uma macromutação roxa de Moscatel Galego.
Ou seja, quando falamos de Moscatel do Douro e de Moscatel de Setúbal não estamos a falar da mesma coisa. Mas falamos de um vinho sensorialmente parecido e feito em ambos os casos à maneira do vinho do Porto, com a adição de aguardente vínica a meio da fermentação. Neste confronto, o Bacalhôa Moscatel de Setúbal 2005, apesar de ser um ano mais novo e não ser propriamente um vinho arrebatador, mostrou ser mais intenso e encorpado e com um final também mais apelativo e longo. O do Portal está um pouco fechado de aroma e é também menos concentrado (7/7,5 pontos em 10).
O Bacalhôa tem um aroma muito atraente, com discretas sugestões florais e notas mais evidentes de passas e de fruta cítrica, e na boca é relativamente gordo, apresentando também um bom jogo doce-ácido (7,5).
Mas muito melhor do que qualquer destes dois é o Bacalhôa Moscatel Roxo 2000. A sua singularidade está directamente relacionada com a forma como envelhece. O vinho estagia em barricas de 180 litros ocupadas anteriormente por uísque de malte escocês e é sujeito a temperaturas mais elevadas do que é normal (um pouco ao estilo do vinho Madeira).
Este Moscatel Roxo, em concreto, passou nove anos em barrica, um tempo de estágio e de evolução já assinalável. É um vinho de boa complexidade e muito expressivo de aroma, com notas típicas da casta (rosas, flor de laranjeira, passas) e outras mais de evolução (frutos secos, bolo de mel, alguma fruta cristalizada).
Na boca, é rico e delicado, possuindo um toque salgado e uma acidez que equilibram muito bem a sua doçura (mas não se perdia nada se tivesse uma acidez ainda mais incisiva. Pela sua graduação e doçura, deve ser bebido fresco, quer como aperitivo, quer a acompanhar sobremesas doces, de preferência com algum toque amargo e ácido.
(Pedro Garcias)