O produtor duriense não pára de trabalhar para isso: quase todos os anos compra uma nova propriedade e acrescenta novos vinhos e novos mercados ao seu negócio. Se a providência lhe der tempo, vai deixar um legado importante no Douro.
Na verdade, a Quinta da Gaivosa já é uma grande marca, na região e no país. E a nova “arquitectura” desenhada por Domingos Alves de Sousa para os seus vinhos deverá reforçar ainda mais a sua notoriedade. O constante alargamento do seu património vitícola tem conduzido a uma crescente diversificação da gama de vinhos, baseada no conceito “quinta por quinta, vinha por vinha”.
Hoje, a ideia está mais consolidada e assenta basicamente em três referências principais: Quinta do Vale da Raposa, “como o reflexo do estudo e do aprofundar do carácter das castas da região”; Quinta da Gaivosa, “como o porta-estandarte da qualidade das vinhas da família Alves de Sousa”; e Alves de Sousa Reserva Pessoal, “como o reflexo da maturidade, o retomar da verdadeira filosofia dos ‘reservas’, dos ‘garrafeiras’. Vinhos de guarda, a serem lançados com tempo de guarda”.
Os mais recentes lançamentos do produtor duriense já clarificam esse conceito. Juntamente com vinhos de 2008, 2009 e 2010, foi apresentado o Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2003. No Douro, só praticamente a Sogrape, com o Barca Velha e o Casa Ferreirinha Reserva Especial, se dá ao luxo de esperar quase uma década para lançar um vinho. Agora, Domingos Alves de Sousa também quer fazer o mesmo com o seu Reserva Pessoal. O vinho será engarrafado apenas em anos excepcionais e só chegará ao mercado com um mínimo de sete anos de idade e de cinco em garrafa.
O Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2003 (45 euros), que corresponde a um relançamento, confirma a bondade da aposta. Ao fim de nove anos, ainda exibe uma grande juventude e um enorme potencial de envelhecimento. Lote de Tinta Amarela, Touriga Franca, Tinto Cão e Touriga Nacional, entre outras castas, provenientes de vinhas com cerca de 80 anos de idade da Quinta da Gaivosa (sub-região do Baixo Corgo), é um tinto fantástico, poderoso, elegante e complexo. Está cheio de sofisticadas evocações químicas e terrosas, como trufas. Tem um delicioso toque vegetal, que lembra couve cozida, e uma frescura de boca formidável. Vale a pena esperar alguns anos por vinhos destes.
Depois de o provarmos, somos obrigados a relativizar a qualidade de vinhos como o Gaivosa Primeiros Anos Tinto 2009, o Quinta do Vale da Raposa Tinto Cão 2009, o Quinta do Vale da Raposa Touriga Nacional 2009, o Quinta do Vale da Raposa Sousão 2010 ou o Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo Tinto 2009, que também acabam de ser lançados. Sozinhos, todos eles causam uma boa impressão, em particular os Vale da Raposa Tinto Cão e Sousão e o Vinha de Lordelo. Mas perdem na comparação imediata com o Reserva Pessoal.
De todos os novos vinhos, e sem incluir na equação o excelente Branco da Gaivosa Reserva 2010 (muito fresco e enxuto, cortante e tenso até, com a madeira muito bem integrada e equilibrada por uma fantástica acidez), apenas um consegue resistir ao Reserva Pessoal 2003: o Quinta da Gaivosa Tinto 2008.
Ainda está um infante, mas já mostra qualidades extraordinárias. Vinho igualmente de vinhas velhas, inebria no nariz e parece explodir na boca. Longo, fresco, raçudo e intempestivo, vai ganhando vida, desdobrando-se num carrossel sensorial que nos deixa em êxtase. Não possui o refinamento do Reserva Pessoal 2003, que só chega com o tempo em garrafa, mas tem o que se espera de um grande vinho de guarda: equilíbrio, complexidade, estrutura, frescura e carácter. Honra as melhores colheitas da Quinta da Gaivosa (1994, 1995,1997, 1999, 2000, 2003 e 2005) e é a coroação de uma grande marca do Douro e do país.
(Pedro Garcias)