Ao lado, uma outra frase, da autoria de um padre chamado Ambrósio, repete uma verdade do vinho: “Quando ele é bom assim, até as borras se lhe bebem”.
A mensagem do produtor é inequívoca: os vinhos da Quinta do Escudial não vão à madeira, mas isso não impede que sejam bons. Será possível?
Há bons vinhos brancos que prescindem da madeira, porém, é difícil adoptar a mesma premissa para os tintos. Estes melhoram e enriquecem com o estágio em barrica. Os grandes vinhos tintos passam todos pela madeira.
Matos da Silva, o proprietário da Quinta do Escudial, até é capaz de reconhecer esta evidência, mas ninguém o convence a arrepiar caminho. Engenheiro reformado, dedicou-se aos vinhos após ter herdado uma propriedade em Seia com 3,5 hectares de vinhas velhas.
Depois de ter plantado outros tantos, aconteceu-lhe o mesmo que acontece a quem se deixa atrair pela viticultura: entusiasmou-se, criou uma marca e começou a vender vinho. Mas não um vinho qualquer. Ao recusar a madeira, por gosto particular, teimosia ou estratégia para reduzir custos de produção, Matos da Silva criou uma imagem de marca, um estilo de vinho que foge do mainstream e que tem muitos adeptos.
E é mesmo verdade: os vinhos que faz são únicos e genuínos e alguns são mesmo bons, embora pouco consensuais, como este Quinta do Escudial Vinhas Velhas Reserva 2008. De aroma vinoso, é um Dão raçudo, intempestivo, de acidez saliente e taninos vivos, daqueles que deixam marca na língua. Sobretudo no ataque de boca, nota-se alguma falta de espessura. Mas o final compensa tudo, desde que se beba o vinho na companhia de comidas fortes e apimentadas.