A queda do consumo arrasta a queda dos preços e quanto mais tempo durar a crise mais baratos ficam os vinhos. Por causa disso, o mercado interno é hoje uma caricatura do que era há meia dúzia de anos. O que ainda se vai vendendo são os vinhos baratos. E quando falámos em baratos, falamos em vinhos com um preço da ordem dos dois euros à saída da adega.
O grande fenómeno actual é a existência de cada vez mais vinhos de entrada de gama, vinhos acessíveis e de maior volume, os únicos que, no contexto actual, garantem liquidez aos produtores. Liquidez, não lucro. Não será propriamente o caso deste Encostas do Gavião, segunda marca da duriense Quinta do Couquinho. Tendo a sua criação sido “imposta” pelas restrições actuais do mercado, é um tinto com um preço de venda ao público de 6,50 euros, bem acima do preço da maioria dos vinhos que se vende em Portugal. Mas não deixa de ser um preço atractivo.
Noutros tempos, pediriam muito mais por ele. Tinto do Douro Superior, tem um aroma tão intenso que parece saído de um frasco de fruta do bosque bem doseada de pimenta. Embora a madureza em excesso em castas como a Touriga Nacional e a Tinta Roriz, duas das variedades presentes no lote, tenda a deixar os vinhos exuberantes de mais e até algo enjoativos, não chega a ser o caso, porque na boca o vinho mostra contenção, fineza, suavidade e frescura, dissimulando e equilibrando bem o álcool.
Sendo um vinho maduro e aromaticamente efusivo, não é muito extraído, nem está marcado em demasia pela madeira.