Antes de mais, convém explicar o nome deste vinho. Aequinoctium é o termo latino para equinócio, que significa “noite igual” e que se aplica aos dois dias do ano (no início da Primavera e no início do Outono) em que a noite e o dia têm a mesma duração.
Na Bairrada, como em quase todas as regiões vitivinícolas portuguesas, as vindimas começavam no final de Setembro e prolongavam-se pelo mês de Outubro. Mas isso era antigamente. Nos anos mais recentes, por causa do aquecimento global, a colheita tem começado ainda em pleno Verão. As uvas deste branco, por exemplo, foram colhidas no dia 9 de Setembro, antes, portanto, do equinócio de Outono — daí o nome Ante Aequinoctium-Veranum.
Se fosse originário do Douro ou do Alentejo, por exemplo, seria um branco tardio, certamente bastante mais maduro. Nestas regiões, as uvas brancas começam a ser colhidas em meados de Agosto. Como é da Bairrada, beneficia da proximidade do Atlântico e das brisas que tornam o clima desta região mais ameno. As uvas amadurecem mais lentamente e os vinhos são muito mais frescos, exibindo uma acidez que chega a ser cortante. Esta acidez, aliada à natureza argilo-calcária de grande parte dos solos da região, garante grande longevidade aos vinhos bairradinos e confere-lhes um carácter distinto.
Lote de Bical, Arinto e Chardonnay, este branco é uma criação de José Carvalheira, o enólogo das Caves São João, e denota bem o “carácter Bairrada”, na mineralidade que evoca e na quase viperina acidez que explica a tremenda frescura do final de boca. Até nas notas de oxidação que já revela no aroma, apesar de ser um vinho de 2011, faz recordar os brancos clássicos da região. Essa oxidação e um ligeiro amargor final não são propriamente agradáveis e podem causar estranheza. Mas não chegam para ofuscar o lado bom do vinho — o seu frescor, gordura de boca, complexidade — e ameaçar a sua capacidade de envelhecimento, que parece ser grande.