Conheci onheci Lopo de Freitas numa visita informal às Caves do Solar de São Domingos com um grupo de amigos jornalistas há uns bons anos. Almoçámos um leitão, servido com batata cozida, como deve ser, e bebemos alguns vinhos da casa. Foi um almoço inesquecível — pela companhia (o David Lopes Ramos era um dos presentes), pelo leitão (sápido e estaladiço) e pelos vinhos (lembro o extraordinário Elpídio Branco 2000, feito de Maria Gomes e Bical, se não estou em erro). Mas a memória mais impressiva e saudosa que guardo desse dia é a de Lopo de Freitas a brincar, meigo e paciente, com as minhas filhas, ainda crianças.
Lopo de Freitas estava, nessa altura, a despedir-se da administração das Caves do Solar de São Domingos, que assumiu em 1970. Deixou o poder depois de ter posto em prática um ambicioso projecto de modernização da empresa, mas nunca se retirou verdadeiramente. Todos os dias passava pelas caves. Faleceu no passado dia 28 de Novembro, na sequência de uma queda. Tinha 85 anos. Era um homem distinto e amabilíssimo.
A Bairrada perdeu um dos seus grandes referentes e as Caves do Solar de São Domingos o seu verdadeiro rosto e mentor, cujo nome tem vindo a ser associado, também em jeito de tributo, aos melhores vinhos da empresa. É o caso deste espumante Lopo de Freitas Bruto 2009, feito de Cerceal e Chardonnay. De aroma amplo e complexo, a lembrar o melhor champanhe, é um espumante de bolha finíssima e mousse envolvente que não se limita a refrescar o palato. Enche a boca de excitantes volteios sensoriais, antes de se esfumar e deixar um rasto de enorme frescura. Um vinho com a elegância, a ternura e o senhorio de Lopo de Freitas.