Uma das maiores vantagens das regiões vitícolas que cercam Lisboa é a sua abertura às castas internacionais. Para a maioria dos amantes do vinho português, e para os produtores das regiões, digamos assim, clássicas, a ousadia de cultivar Cabernet em vez de Touriga Nacional ou de apostar na Petit Verdor em vez da Touriga Franca parece uma bizarria num país com uma das mais extensas listas de castas de todo o mundo.
Mas, bem se sabe, o Comendador Berardo liga mais ao potencial comercial do que produz do que aos símbolos com os quais se quer fazer de Portugal “um mundo de diferença”. Afinal, nos mercados internacionais a escolha de vinhos em função das castas reconhecidas é muitas vezes mais importante do que a aposta na singularidade de vinhos de variedades estranhas. É pena, mas é assim.
Depois da compra da Bacalhoa em 1998, as plantações de castas internacionais intensificaram-se, aproveitando a bondade dos solos calcários e a amenidade do clima para replicar na Península de Setúbal o que se faz em Bordéus.
O resultado é que é diferente, como se comprova com este magnífico Palácio da Bacalhoa. Se o lote é dominado pelo par que tornou Bordéus no caso de sucesso mundial que conhecemos, a inclusão de um pequeno lote de Petit Verdot acrescenta corpo e intensidade aromática ao lote. Mas não basta para se sobrepor à garra da Cabernet, que confere a este vinho não apenas a sua estrutura mas igualmente a sua frescura vegetal.
Produto de ano pródigo para Setúbal, o que se comprova pela madurez dos taninos e pela qualidade da fruta, este vinho da autoria de Filipa Tomaz da Costa é raçudo pela sua estrutura e complexo pelo seu balanço de acidez, fruta e pelas nuances de tosta que resultam de um longo estágio (16 meses) em meias barricas novas de carvalho francês. Para a mesa e para a cave – a primeira edição deste vinho, de 2000, está num patamar de grande nível.