A colheita de 2011 foi muito boa em todo o país, mas o calor que fez bem a muitos vinhos (aos Porto Vintage, por exemplo) pode ter deixado muitos outros demasiado alcoólicos.
A busca da maturação perfeita, que todas as vindimas deixa grande parte da classe enológica nacional à beira de um ataque de nervos, tem conduzido a grandes desastres vínicos. Nem sempre é possível conciliar de forma harmoniosa álcool, fruta, taninos e acidez. Esperar que os taninos amadureçam, o verdadeiro programa da maioria dos enólogos, pode ser fatal para a harmonia do vinho, que se arrisca a ficar com álcool a mais e acidez a menos. Com as mudanças climáticas, a boa política é conseguir o melhor compromisso possível, embora o que determine cada vez mais a decisão do enólogo seja o mercado, em especial a necessidade de vender o vinho cedo.
Nesta equação tão complexa, nunca como hoje foi tão importante a escolha da casta. Basta ver o afã dos produtores alentejanos em plantar Petit Verdot, Syrah, Arinto e Alvarinho, ou dos durienses em plantar Sousão, castas com boa acidez, para se perceber a preocupação geral com o aumento das temperaturas e, por arrastamento, do volume alcoólico dos vinhos.
E é aqui que entra a proposta desta semana, um tinto alentejano feito com Touriga Nacional, Touriga Franca e Grand Noir. Um claro exemplo de um vinho de compromisso, porque junta castas com características distintas. Mas o que merece ser salientado é a aposta na variedade Grand Noir, uma quase exclusividade deste produtor. Meia-irmã da Alicante Bouschet, a Grand Noir resultou do cruzamento da Aramon com a Petit Bouschet. Além de ser muito tintureira, é uma casta que origina vinhos moderados de álcool e com boa acidez- o sonho de qualquer enólogo.
E é isso que encontramos neste tinto magnífico: moderação, elegância, frescura, harmonia.