Não tem, sequer, a austeridade e a elegância de um Dão e está longe de revelar aquela vivacidade quase ríspida da Bairrada. Embora sendo um vinho do Alentejo, feito com castas locais, também não é fácil de associar ao Sul de Portugal. Terá na sua robustez alguns avatares durienses, mas é difícil falar em semelhanças quando há um mundo a separar as castas típicas do Douro com a Grand Noir e o Alicante Bouschet, duas das variedades que entram na composição deste vinho.
O que o distingue, afinal? Certamente o dedo do enólogo e, acima de tudo, as uvas e a sua origem, a serra de São Mamede, que, ficando no Alentejo, tem tanto do Norte como do Sul: lado a lado com sobreiros e oliveiras, há pinheiros, carvalhos e castanheiros, tudo árvores de água e frio. São Mamede é um pequeno mosaico de Portugal e este Terrenus espelha bem essa diversidade: tem a frescura da altitude e o calor da planície. Na fase crítica de maturação, beneficia de grandes amplitudes térmicas (muito calor de dia, frio à noite), e isso é música celestial para qualquer enólogo. As uvas amadurecem sem sobressaltos, os taninos ficam suaves, a acidez e o álcool transmutam-se de forma equilibrada. Depois entra a alquimia das vinhas velhas, enraizadas profundamente, alimentadas com os melhores nutrientes e escassas na produção. Toda a riqueza da planta se concentra num pequeno número de cachos. Uvas assim só podem originar um vinho rico, concentrado e profundo, como é o caso. Negro no perfume (fruta preta, tabaco, chocolate negro), Terrenus é um tinto quase mastigável, deliciosamente saboroso e complexo. Apesar de ser bastante maduro, não cansa o palato, graças à sua macieza tânica, ao seu fogo especiado e à sua frescura balsâmica. Muito bom.