Tem tudo a ver. Tanto o nome como o vinho não podiam estar em melhor concordância com o estilo e a filosofia de um produtor como João Tavares de Pina, uma espécie de rebelde e insubmisso que teima em fazer vinhos simples e naturais e em resistir à tendência de doçura e concentração que tem ditado a moda no mundo dos vinhos.
E qual é o problema com o vegetal e a acidez nos vinhos do Dão?, costuma até questionar em tom de desafio para explicar que essa foi sempre a tradição dos grandes vinhos gastronómicos da região. Na sua propriedade de 6,5 hectares de vinha, em Penalva do Castelo e já a olhar a serra da Estrela, Tavares de Pina segue um modelo de agricultura sustentável, com as castas mais antigas da região e em obediência ao seu compromisso ético com a natureza, onde os tratamentos químicos são apenas um último e irremediável recurso.
Nesta sua primeira versão, resultante da colheita de 2012, o Rufia é a expressão mais simples desse contexto. Lote onde se conjugam a potência e profundidade da Touriga Nacional e a frescura vegetal do Jaen, com um suplemento de Tinta Pinheira (Rufete) a conferir o toque de elegância. Às primeiras sensações frescas e vegetais (o tal verdor tão típico dos grandes vinhos do Dão), sucedem-se notas de frutos vermelhos e do bosque, sempre envoltos por saboroso e espevitado tanino. Um vinho desafiador, fresco e rabioso na boca, que não sossega o palato até revelar toda a fruta e profundidade.
Tal como a criança que não dá sossego mas cuja vitalidade nos enche de orgulho, também este vinho é um rufia no sentido literal do termo, já que permanentemente desafia e questiona os sentidos, espevita o palato e acaba com rasto de saborosa satisfação.
Não é fácil nem doce, mas cativa e apetece. Pede comida e um copo atrás do outro, e é precisamente isso que distingue os bons vinhos.