Foi preciso um produtor do Alentejo (a Herdade do Esporão) chegar ao Douro para empunhar a bandeira do combate a essa desgraça para a região que é a barragem de Foz Tua.
O vinho é antes de mais cultura e a Esporão e João Roquette assumem-no com frontalidade e coragem neste rótulo. Quando a generalidade dos produtores durienses (com a rara excepção de personalidades como Paul Symington) se calou perante o avanço de uma obra que chega a pôr em causa o estatuto de património mundial da Unesco recebido pela região, é curioso e saudável notar que é um lisboeta devotado por anos e anos de trabalho consagrado no Alentejo que se dispõe a dar combate a esse projecto lesivo para o Douro e para o interesse nacional.
Este Assobio é, por isso, um vinho e um manifesto. Como manifesto, merece apoio, como vinho cumpre mais uma etapa na ascensão do projecto da Esporão no Douro. Depois de adquirir a Quinta dos Murças à família de Manuel Pinto de Azevedo em 2008, a Herdade do Esporão lançou um Porto, um Reserva e o Assobio, um vinho para a gama média do mercado.
Cumprindo o sábio princípio da casa, os vinhos só chegam ao mercado já com alguns anos de estágio em garrafa. Enquanto se espera pelo Reserva de 2011, o Assobio dessa colheita memorável já aí está a cumprir os pergaminhos da casa.
Belos aromas de fruta vermelha, notas discretas de especiaria, é uma festa para os sentidos. Bem proporcionado, rico e divertido na boca à custa do balanço entre estrutura, acidez e fruta, é um belo vinho a um preço sensato. E que faz a apologia de uma boa causa.