O problema é serem raras. A casta quase que desapareceu da ilha (no continente, em especial no Douro, é conhecida por Folgazão) e os vinhos Madeira de Terrantez que vão surgindo no mercado têm já alguma idade e remontam aos tempos em que a variedade Tinta Negra Mole não era tão hegemónica como é hoje.
Na ilha do Pico, também há uma variedade Terrantez, que os Serviços de Desenvolvimento Agrário de São Miguel garantem ser exclusiva daquela ilha açoriana. E é ainda mais rara do que a Terrantez da Madeira. Quando, há uns anos, a técnica de viticultura Susana Mestre começou a fazer o levantamento das castas plantadas na ilha do Pico só encontrou algumas videiras dispersas.
No máximo, haverá actualmente 100 videiras. Para evitar a sua extinção, aqueles serviços instalaram um campo de selecção clonal em São Miguel, cujas uvas têm vindo a ser vinificadas pelo enólogo António Maçanita (filho de pai açoriano).
E é esta a origem do vinho Terrantez do Pico by António Maçanita, uma produção minimal que tem como objectivo estudar o potencial da casta e, ao mesmo tempo, estimular a sua recuperação. Da colheita de 2013, Maçanita fez apenas 646 garrafas. Não é o melhor vinho do mundo, mas é um vinho único e emocionante; e, só por isso, vale a pena ser conhecido.
O aroma, pouco exuberante mas bastante original, denota alguma influência tropical a par de algum citrino amargo e notas iodadas. Na boca, tem a salinidade do Atlântico e a secura e mineralidade do solo vulcânico, mostrando bom volume, untuosidade e um final muito fresco.
Um quarto do lote fermentou e estagiou durante nove meses em barrica com batonnage semanal. É só um palpite, mas na nossa opinião talvez seja o tipo de vinho que perde mais do que ganha com a madeira. Sem madeira, seria ainda mais autêntico.