Na estrada entre o Pinhão e a Régua, na margem esquerda do Douro, há uma quinta que dá nas vistas pela sua localização e pela sensação de aprumo que transmite, a Quinta do Pôpa.
Numa região do país onde as alcunhas são mais usadas que os nomes próprios, Francisco Ferreira era conhecido pelo “Pôpa”. Quando o seu filho, emigrado em França, começou a comprar as primeiras parcelas da actual quinta, hoje com 30 hectares, dos quais 14 são de vinha, já sabia que nome lhe dar. A homenagem ao pai ficava consagrada.
Mas se este gesto pode ser tido como normal, tradicional, a ideia de utilizar a matéria-prima de vinhas classificadas com a letra A (a mais alta entre os escalões do “benefício” no Douro) para vinhos tranquilos em detrimento do vinho do Porto foi uma novidade impensável há 30 anos. Por esse lado, o projecto Pôpa é absolutamente moderno no Douro.
Para o concretizar pelo seguro, os proprietários da quinta estabeleceram desde 2007 uma parceria com Luís Pato, outorgando-lhe o direito de produzir os vinhos da casa. Os tintos que entretanto apareceram denunciam, é evidente, características marcadas pelo Douro (nos aromas de arbustos, no calor na boca, na firmeza dos taninos), há ali, principalmente nas gamas superiores, um dedo do criador bairradino (na precisão do seu conceito, na sobriedade ou na vocação para a mesa).
Entre um vinho de gama média (custa 10 euros) como o Pôpa 2012 (feito em parceria com Francisco Montenegro) e o topo de gama Vinhas Velhas de 2009 há uma linha de identidade fácil de detectar. O Vinhas Velhas, feito a partir de uma vinha com mais de 60 anos, é, apenas, e como seria de esperar, de outro campeonato. Framboesa, amora, sugestões balsâmicas, nota de tosta bem posicionada conferem-lhe uma boa amplitude aromática. Não é um vinho denso, untuoso, que se cola na boca.
Mas o seu corpo delgado, que acusa já a evolução em garrafa, está longe de sugerir fragilidade ou inconsistência. Pelo contrário, os taninos revelam rugosidade, servem de base para um vinho com garra, que evolui de uma impressão que deixa no início de boca alguma adstringência para depois dar origem a um final longo e vivo de frescura e fruta.