Na garrafeira da A. A. Ferreira, por exemplo, ainda há muitos vinhos do Porto das primeiras décadas do século XIX, contemporâneos da lendária Dona Antónia Adelaide Ferreira, “A Ferreirinha”. Mas, mesmo tendo pouco mais de 50 anos, o Sandeman Porto Tawny Muito Velho Cask 33 que a empresa liderada por Salvador Guedes lançou recentemente é um Porto especial e distinto.
Não sendo um Colheita (vinho de um só ano), também já não se encaixa nos Tawny datados, que vão dos 10 aos 40 anos (os anos correspondem à idade média dos vinhos utilizados no lote). É um magnífico Porto velho que foi sendo refrescado com vinhos mais novos e envelhecendo na mudez da cave, na velha tradição dos vinhos generosos do Douro.
Há uns anos, no meio de 40 cascos com vinhos antigos, Luís Sottomayor, o responsável enológico de todos os vinhos do Porto da Sogrape, ficou de olho no casco 33. “Sobressaía em relação aos outros. Tinha mais impacto, era mais mineral”, diz. O tempo e o refrescamento foram-no apurando e em 2013 já não levou nenhum refresco. Desse casco foram cheias este ano 685 garrafas, numa edição luxuosa e limitada. É um vinho que reflecte a verdadeira essência do vinho “fino” do Douro. Um vinho de lote, de diferentes lugares e exposições, com toda a certeza também de diferentes produtores.
Luís Sottomayor encontra nele “aromas balsâmicos a caixa de tabaco e madeiras exóticas, bem como frutos secos, a amêndoa e avelã”; e detecta-lhe ainda “notas especiadas a pimenta, gengibre, noz-moscada e caril”. Mas não se esforce por descobrir tudo isso, se tiver ocasião de o provar. Quando o cheirar e levar à boca não vai precisar de o dissecar, porque a enorme complexidade e riqueza do vinho, a sua harmonia e voluptuosidade e o seu vigoroso frescor tornam fútil esse exercício. Basta desfrutá-lo, de preferência na companhia de quem mais gostamos, e darmos graças por isso.