Se outros méritos não tivesse (e tem, e muitos), António Maçanita mereceria sempre o nosso reconhecimento por ser um enólogo contra muitas correntes. Bem sabemos que ele é capaz de dar conta do recado numa empresa com as dimensões do Arrepiado Velho, onde faz belos vinhos, mas é nas apostas com a assinatura da Fita Preta, a sua empresa, que ele consegue expandir a sua ousadia e irreverência.
Se anda meio Alentejo e além a dizer cobras e lagartos da casta Castelão, uma variedade histórica da região e de Setúbal, ele ruma contra a corrente e faz um vinho que, pelo menos, tem o mérito de obrigar muita gente a repensar as suas estratégias.
A verdade é que se este Castelão da vindima de 2010 não é excelente, será difícil perceber onde está a excelência. Talvez o problema seja o do tempo em que vivemos, pouco dado a condescendências com vinhos que nascem duros, angulosos e difíceis, vinhos que exigem tempo de garrafa. Talvez o problema seja o da propensão para o deslumbramento que elevou a casta Syrah à quarta posição na área ocupada na vinha nacional e remeteu a Castelão para “papéis secundários ou de figurante”.
O que aqui está em causa com este vinho é um caso muito sério. Corpo delicado (sugere um Pinot), aroma de futa vermelha, groselha e ameixa, jovial, delicado e atraente, com sugestões remotas de tosta onde estagiou 24 meses, é um tinto delicado na primeira impressão mas que depois se afirma com firmeza e intensidade à custa dos seus taninos apurados. São, no entanto, a sua finesse e elegância que mais se destacam.
Um vinho cheio de graciosidade e de personalidade, que se impõe pelo seu magnífico balanço, pela expressão da fruta, pela elegância e distintividade. Um grande vinho de um enólogo que faz gala em ser diferente.