Nos últimos 20 anos o vinho do Porto perdeu muita da biodiversidade que sempre o caracterizou. A concentração da distribuição e do retalho impôs um inexorável processo de concentração em Gaia e, hoje, cinco grupos controlam mais de 80% do total das vendas. Quer isto dizer que há razões de queixa sobre a qualidade média do vinho do Porto? Não, nada disso — pelo contrário, é hoje reconhecido que, quer a nível de tawnies, quer de vintage, os vinhos estão melhores do que nunca. O principal dano deste processo está antes na rarefacção de produtores independentes, pequenos e médios, o que acaba sempre por implicar a rarefacção de outras formas de encarar o vinho do Porto.
Entre o núcleo de resistentes que no Douro insistem em manter-se activos está a Quinta do Estanho, uma empresa familiar que cultiva as suas vinhas e faz os seus vinhos em Cheires, no vale do Pinhão. Os Cardoso não descuram a onda dominante dos produtores durienses e produzem os seus DOC Douro, mas continuam a ser essencialmente uma família do vinho do Porto. Que segue as tradições da pisa a pé, que persiste em criar um perfil de Porto marcado pelas especiais condições de envelhecimento do Douro — o que proporciona aos seus tawnies o famoso e, neste caso, valioso Douro Bake.
Na sua gama superior de tawnies encontram-se um 20 anos que acusa no aroma as notas torradas do envelhecimento num clima mais quente, mas com uma intensidade na boca singular e afirmativa. O “Mais de 40 anos” é um primor de elegância, que deixa na boca um rasto de complexidade e que conserva uma potência admirável. E o 30 anos, com um aroma de avelãs intenso, notas de chá preto e uma presença na boca formidável. Vinhos que valem a pena, provas de que há famílias que resistem à concentração do negócio e à moda hegemónica do DOC Douro e revelam que, na região produtora, se continuam a fazer grandes vinhos do Porto.