Éramos quatro à mesa, dois casais, com dois vinhos 100% Viognier para testar na companhia de um arroz de línguas de bacalhau. Os vinhos eram o Quinta do Monte d’Oiro Madrigal 2013 e o Dona Maria 2013. O primeiro da zona de Torres Vedras, já um clássico em Portugal daquela casta francesa oriunda da região de Condrieu, no vale do Ródano; o segundo proveniente de Estremoz.
Do princípio ao fim, as mulheres preferiram o Madrigal. Os homens gostaram mais do Dona Maria. Como explicar esta dualidade? Antes de mais, é preciso sublinhar que não estamos perante vinhos de homens e vinhos de mulheres. São, antes de mais, dois belos vinhos brancos. A explicação para as mulheres gostarem de um e os homens gostarem de outro pode ser simples: uma mera questão de gosto.
Mas há neste caso umas pequenas nuances que podem explicar essa questão de gosto. O Madrigal tem 14% de álcool e o Dona Maria 13%. E o Dona Maria surge mais ácido do que o Madrigal, talvez por ser menos alcoólico (não quisemos saber os valores analíticos de cada vinho). Um grau de álcool num vinho pode fazer toda a diferença, ainda mais se esse vinho é um branco. Um grau a mais aumenta a sensação de doçura no vinho.
Os vinhos de Viognier são, em regra, bastante alcoólicos. Precisam de amadurecer bem para mostrarem toda a sua riqueza e gordura. São brancos de aroma exótico (alperce, sobretudo) que se bebem quase como tintos. Há quem adore e há quem não aprecie mesmo nada. Os grandes Viognier podem ser muito bons, os normais são quase sempre enfadonhos.
O Viognier da Quinta de Monte d’Oiro é mais rico do que o Dona Maria. Basta provar os dois vinhos a uma temperatura mais elevada do que o normal para perceber isso. Mas, sendo mais fresco, o Dona Maria cansa menos e dá mais prazer a beber ao longo da refeição. A frescura é sempre decisiva num vinho. Daí a nossa preferência pelo Viognier alentejano.