As castas podem viajar, mas os terroirs não. Bento dos Santos sabia disso quando, em 2004, plantou uma parcela de vinha com enxertos-prontos de Syrah preparados a partir de varas colhidas em Hermitage, Côte-Rôtie e Saint-Joseph, no vale do Ródano, em França, em vinhas com mais de 50 anos de produtores afamados como Chapoutier, JL Chave e Guigal, que assinam alguns dos melhores vinhos de Syrah do mundo.
Para mimetizar o mais possível as condições originais dos vinhos que lhe serviam de referência, Bento dos Santos optou por plantar cerca de 8 mil videiras por hectare, uma densidade semelhante à utilizada em Hermitage e que é o dobro da densidade de referência em Portugal; e, sem rio por perto, escolheu para a nova vinha uma encosta suave virada a sul, bem exposta e com o melhor solo da quinta. Ficou a faltar-lhe o tempo, os mais de 50 anos que já tinham as vinhas de onde vieram as varas. Mesmo assim, a primeira colheita da parcela 24, de 2007, foi um sucesso. O vinho encantou a crítica, a começar por Mark Squires, o provador de Robert Parker para Portugal, que vislumbrou um tinto a “gritar a Rhône” sem ser uma imitação dos Syrah das Côtes du Rhône.
Grande elogio para uma estreia auspiciosa que coloca em cheque algumas ideias feitas sobre a idade das vinhas. O vinho ainda não é uma ciência e, por isso, Bento dos Santos nunca fará um Syrah como os Syrah de Hermitage. De igual modo, em Hermitage também ninguém fará um Syrah como os da Quinta do Monte d’Oiro. Este Syrah 24 possui os caracteres essenciais da casta (frescura vegetal, fruta negra, notas achocolatadas e balsâmicas, taninos firmes), mas é dotado de personalidade própria, expressando o contexto da vinha e do ano — que, no caso de 2011, foi extraordinário. É um vinho mais maduro do que o 2007, muito suculento, vigoroso e de grande elegância tânica. Se gritar a alguma coisa, grita a Alenquer.