A Alicante Bouschet é uma casta extraordinária. Mas para expressar o seu melhor precisa de ser moderada na produção e amadurecer bem.
No clima alentejano, onde renasceu para a viticultura mundial, a maturação não é um problema. O desafio é conter a produção no limiar certo, uma vez que se trata de uma casta muito produtiva.
Há uma outra equação que se coloca ao enólogo: o volume alcoólico. Quando a Alicante Bouschet atinge a maturação perfeita, o álcool provável já ronda os 15%. É um grande dilema: ou se colhe mais cedo, para conseguir mais acidez natural, e corre-se o risco de o vinho ficar um pouco mais taninoso e amargo; ou se aposta tudo no equilíbrio e na elegância em detrimento de um volume alcoólico mais elevado.
Neste Grande Rocim 2011, feito apenas de Alicante Bouschet, a Herdade do Rocim foi claramente pela segunda via. O vinho tem 15,5% de álcool e está quase na fronteira do aceitável para um tinto tranquilo. É um vinho poderoso, denso, profundo, apimentado, que chega a todos os pontos sensitivos da nossa boca e nariz, um vinho muito frutado e químico que quase se mastiga e que demora a desaparecer. Apesar dos 15,5% de álcool, possui uma elevada acidez (se for natural, é notável), que equilibra todo o conjunto e dá tensão e garra ao final de boca.
A sua robustez garante-lhe muitos anos de vida, mas pode ser um erro esquecê-lo na garrafeira. Os vinhos muito alcoólicos podem melhorar nos primeiros anos de vida, mas com o passar do tempo vão tornar-se pesados. A frescura é o santo graal de um vinho. Não é por acaso que os vinhos da Bairrada, de baixo teor alcoólico, são os mais longevos e os mais agradáveis de beber quando velhos.
Este exuberante e imponente Grande Rocim é para beber e apreciar desde já, sem olhar para o contra-rótulo e na companhia de amigos. Uma garrafa pode ser de mais para um homem só e o vinho merece ser partilhado.