E é bem singular e sentida esta homenagem associada à história da Quinta do Pôpa.
Logo a começar pelo nome, que presta tributo a um homem nascido e criado entre socalcos e vinhedos mas a quem as regras sociais de então cortaram voos ao sonho de ascender a proprietário e produtor. Não foi ele, mas acabou por ser o filho, que, por isso, baptizou a propriedade com a alcunha que herdou graças ao arrebito capilar que o pai exibia.
São os netos, Vanessa e Stéphane, os actuais senhores da quinta. Uns belos 30 hectares que acompanham a margem esquerda do Douro, no Cima Corgo, cerca de metade dedicada à vinha e incluindo três hectares de vinha velha com as mais representativas castas tintas da região, todas com a classificação máxima de letra A.
É destas parcelas com mais de 60 anos e uma mistura de mais de 20 castas que vem a maior parte lote que compõe este Homenagem que saiu da adega em finais de Dezembro. O resto é Tinta Roriz (35%) e Touriga Nacional (25%), que foram vinificadas em separado, com pisa a pé e macerações prolongadas. A par da rotulagem com a imagem e história de vida do inspirador avô, o vinho é em si também uma homenagem ao seu tempo, privilegiando a expressão frutal à estrutura, a elegância à evidência do álcool.
Complexo e intenso, é ao mesmo tempo sucoso e cheio de garra, com taninos bem marcados e volumosos mas sempre num registo de suavidade e elegância. Um belo trabalho de enologia associando o bairradino Luís Pato e o duriense Francisco Montenego, que parecem ter conseguido conjugar o melhor de dois mundos: um notável equilíbrio entre estrutura e elegância, concentração e frescura. O Douro na sua melhor versão e sem dúvida um dos grandes vinhos da actualidade.