A coexistência pacífica entre a barrica e a Antão Vaz. Há cada vez mais bons exemplos de brancos de todo o país que passam por madeira sem serem excessivamente marcados pelas notas de barrica.
É uma boa notícia. Um branco sem a expressão da fruta ou com a sua acidez “natural” diluída nas texturas da madeira é sempre um branco com complexidade reduzida. Pelo contrário, um branco com vivacidade aromática das suas castas originais temperadas com a sofisticação da madeira resulta mais facilmente num vinho menos cansativo, mais versátil e muito mais prazenteiro.
Este Collection da Herdade do Arrepiado Velho, uma empresa de Sousel que se vai ancorando a cada ano que passa num projecto com consistência e identidade, resolve bem esse compromisso. Só 70% do lote fermentou durante um ano em barricas no sistema de battônage (que permite o contacto do vinho com as suas borras originais), o suficiente para lhe dar densidade e complexidade. Mas a expressão da fruta, com destaque evidente para os aromas da Antão Vaz, balanceiam bem esta dimensão sempre mais afirmativa da tosta.
No nariz, resultam assim evidentes notas de pêra, maracujá e tangerina. Na boca é volumoso, mas ao mesmo tempo vibrante, deixando transparecer sobre a marca da madeira que lhe determina a primeira impressão uma bela e fresca sensação cítrica.
Potente mas ao mesmo tempo sensível, com fruta mas com o tempero de uma bela acidez e do tanino da madeira, denso, longo e profundo, é um branco ecléctico, que tanto dá para momentos conviviais como para pratos de peixe assado ou sashimi, e de categoria.
Mais um manifesto positivo de uma empresa com um grande enólogo e com uma filosofia estética e enófila que apostam na diferença sem perder a ligação à terra.