A Casa Ferreirinha continua a ser uma casa de vinhos tintos. No seu portefólio encontramos o campeão de vendas Planalto ou o Vinha Grande, mas não é por aí que a companhia impõe os seus pergaminhos.
É pela transversalidade dos seus vinhos tintos, que vão do mais acessível Esteva aos clássicos intemporais Reserva Especial e Barca Velha. Este ano, porém, algo começou a mudar. Pela primeira vez, a empresa do universo Sogrape decidiu criar um branco de gama superior.
Fê-lo ainda em jeito de ensaio (uma produção de mil garrafas) e para dar prova da sua ambição recorreu à marca com o nome da heroína da casa (Dona Antónia Adelaide Ferreira). Os resultados são entusiasmantes. O vinho que já está no mercado, da vindima de 2012, é muitíssimo bom.
Entre as enormes opções ao seu dispor para ousar a produção de um branco de perfil clássico, o enólogo Luís Sottomayor escolheu uma vinha na Quinta do Sairrão, perto de São João da Pesqueira. A maior altitude dessa vinha é uma garantia de frescura e a disponibilidade de lotes de Arinto um certificado de acidez vibrante.
Depois há ainda a forte personalidade dos aromas do Viosinho e um trabalho com a barrica que acrescenta complexidade sem, como por vezes acontece em Portugal, arrasar por completo a dimensão da fruta.
O resultado final é um branco com madeira de classe, com garra e ao mesmo tempo com uma enorme frescura. Os seus aromas denunciam fruta de polpa branca e abacaxi, bem envolvidos com o toque da barrica.
Na boca é um vinho sedoso, intenso, mineral, com a fruta a exibir-se em grande forma e a madeira a temperar-se com uma acidez vibrante e fresca. Para cúmulo, é um branco com um soberbo final.
Um belo vinho que é, para lá do imediatismo, também um grande vinho em potência. Mais um par de anos em garrafa e este branco há-de conjugar ainda melhor as suas componentes e tornar-se um caso muito mais sério.