Podemos ser muito fiéis a determinados vinhos, mas todos ansiamos por novidades, por propostas ousadas e inovadoras. É isso que leva alguns produtores a fazer vinhos tranquilos com 17 graus, vinhos brancos de uvas tintas e até tintos contaminados com Brettanomyces, uma levedura que desenvolve compostos com aromas desagradáveis tipo suor de cavalo.
Mas nem tudo é mau. Nos últimos anos têm surgido alguns vinhos tintos inspiradores, abertos de cor, elegantes, frescos e saborosos, sem excessos de madeira e taninos, nos antípodas dos vinhos concentrados, densos e maduros que continuam a ganhar concursos e a obter as melhores críticas.
Nessa linha de vinhos, de clara inspiração borgonhesa mas com origem numa certa tradição local, inserem-se, por exemplo, os durienses Meruge (Lavradores de Feitoria), Turris (o novo topo de gama da Niepoort), e Charme (Niepoort), o minhoto Pardusco (Anselmo Mendes) e este Ribeiro Santo E.T, do Dão (Magnum Vinhos).
Com a memória dos vinhos tintos do Dão de antigamente, que também levavam uvas brancas, mais ácidas e aromáticas, Carlos Lucas e os seus sócios juntaram 15% de Encruzado a um lote de Touriga Nacional e criaram um vinho que não tem nada de extraterrestre, a não ser, digamos, o preço a que o vinho é vendido: 39 euros. Isto se o compararmos com o Pardusco (sete euros); se a comparação for com o Turris, que custa uns absurdos 120 euros, então até pode ser considerado barato.
A virtude estará algures, embora nenhum vinho seja caro se houver alguém disponível para o comprar. Deixemos, pois, o preço de lado. O Ribeiro Santo E. T 2012 é bom? É. De aroma expressivo e delicado (flores, fruta branca e vermelha), possui uma elegância e uma sapidez magníficas. Os seus 14,5% de álcool explicam a fruta suculenta e a macieza de taninos. Como tem uma bela acidez, o álcool não chega a pesar, mas se fosse menos maduro não se perdia nada.