Uma coisa é existir um estilo Douro — e ele existe no Douro como existe em Bordéus ou na Borgonha, o que é bom, porque revela carácter, tipicidade, singularidade. Outra bem pior é confundir estilo com homogeneização e indiferenciação.
Basta fazer uma só viagem pelo Douro, cruzando os seus inúmeros vales, subindo das margens do rio até aos altos dos seus montes, para se perceber a diversidade da região. Entre a sub-região do Baixo Corgo e a sub-região do Douro Superior, por exemplo, há um infindável mundo de diferenças, apesar de estarem separadas por umas escassas dezenas de quilómetros.
Em França, o Douro nunca seria só uma região dividida em apenas três sub-regiões administrativas que nem sequer podem surgir nos rótulos dos vinhos. Seria, certamente, algo mais parecido com Bordéus. Resumir todo o Douro a uma só denominação, no caso dos vinhos tranquilos, é, de resto, um erro enorme, o que tem impedido a região de potenciar ainda mais toda a sua diversidade.
Este Marka Tinto Vinhas Velhas é um bom exemplo dessa diversidade e riqueza. Proveniente de vinhas localizadas quase na fronteira entre a sub-região do Baixo Corgo e a sub-região do Cima Corgo (mais ou menos entre o Pinhão e a Régua), junta na sua composição uvas tintas e uvas brancas de 26 castas, com predomínio das tintas. Não se distingue pela cor carregada, pela robustez tânica e pela concentração de fruta, mas prende-nos pela sua elegância, pela franqueza dos seus aromas e sabores campestres, pela textura sedosa e pela frescura de boca. E, no entanto, é um vinho com a marca Douro — de influência mediterrânica, tributário da abundância de sol e da escassez de água. Um vinho belíssimo, diga-se. Pode não estar predestinado a ganhar concursos, mas dá um enorme prazer a beber, apesar de ser ainda muito jovem.