O álcool é um conservante mas, em regra, os grandes vinhos tintos do mundo, aqueles que duram décadas, têm volumes alcoólicos baixos. Por cá, basta lembrar os vinhos mais antigos do Bussaco e das Caves São João (Bairrada e Dão), que raramente passam dos 12,5% de álcool.
No Douro, a história dos seus vinhos tintos ainda é muito recente, mas, se tomarmos como referência o Barca Velha, o último, o 2004, tem 13,5% de álcool, curiosamente o mesmo álcool do primeiro, elaborado em 1952. No entanto, se olharmos para os vinhos do Douro que nos últimos anos melhores pontuações têm obtido da crítica nacional e internacional, quase todos têm entre 14,5% e 15% de álcool. Quem é que anda enganado?
Se calhar, ninguém. Os vinhos estão a ficar mais alcoólicos porque a temperatura tem subido e também porque são vendidos mais cedo. Um vinho com menos álcool tem normalmente mais acidez e taninos menos maduros, pelo que precisa de tempo de garrafa para harmonizar e complexar. Como saem mais depressa para o mercado, os vinhos têm de estar mais afinados, com fruta mais expressiva e taninos mais suaves — e isso é mais fácil se apanharmos as uvas já bem maduras. Daí os vinhos serem também mais alcoólicos.
Como nascem muito concentrados e potentes, e são provados novos, é normal que o seu impacto sobre os críticos seja maior. Mesmo que se tente imaginar a evolução do vinho, o que pesa na avaliação de um vinho é a primeira impressão
Veja-se o caso deste Palato Grande Reserva 2011, que marca no rótulo 15% de álcool. Com este álcool, temos sérias dúvidas que daqui a 20 anos seja um vinho muito interessante. O que se aprecia num vinho velho é, sobretudo, a sua frescura e não há frescura que sobreviva a 15% de álcool. Mas como está agora? Magnífico. Está cheio de fruta, sobretudo do bosque, é muito especiado e possui grande lastro, deixando uma marca forte e agradável na boca e na memória. E é por isso que leva quatro estrelas.