Quem tiver a possibilidade de comparar este rosado da Bairrada com o Pavão de Espirra, de Setúbal (ver nota ao lado), vai perceber o que é um bom e um mau rosé. Não estão em causa marcas, roupagem, nem preços. O didatismo do exercício é apenas de ordem sensorial. O mundo que separa estes dois vinhos é muito elucidativo. 

O exercício lembra-nos que nem todas as castas são adequadas a um vinho rosado, que as exigências na sua elaboração deviam ser as mesmas que se tem com outro vinho e que, como com os brancos e os tintos, há regiões melhores que outras. 

O Quinta do Poço do Lobo Rosé Reserva 2014 é um rosado a sério, é um grande vinho em qualquer lugar do mundo. Em Portugal, são poucos os que conseguem atingir um nível assim. De imediato, ocorre-nos apenas o Colinas Principal Tête de Cuvée, também da Bairrada e feito apenas com Pinot Noir.

O Quinta do Poço do Lobo é uma associação de Pinot Noir com Baga. A delicadeza e frescura do Pinot Noir combinam na perfeição com a “rusticidade” tânica e o nervo da Baga. As notas florais que que se desprendem do copo (rosas secas) podiam sugerir, se provado às cegas, que estaríamos perante um branco. Mas a fruta vermelha muito viva, a riqueza e a textura de boca, enriquecidas com o estágio parcial do lote em barricas, aproximam-nos logo de um tinto. No entanto, o final, de uma frescura extraordinária, podia voltar a baralhar-nos. 

Este é vinho com aquilo que um grande rosé deve ter: a delicadeza e a frescura de um branco e a estrutura e a firmeza de um tinto. E outra coisa muito importante: é um vinho seco, sem açúcares residuais a incomodar. Para a mesa, pense neste rosado com tudo. Começámos por prová-lo com percebes e filetes de pescada e soube-nos pela vida. Imagine a sua amplitude gastronómica!