Primeiro o Douro, depois a região dos Vinhos Verdes e agora o Alentejo. Num país esquivo a investimentos empresariais à escala nacional, a Lua Cheia em Vinhas Velhas é um caso tão raro que parece uma ousadia.
E é, quanto mais não seja pela dificuldade que há em interpretar patrimónios vitícolas tão distintos. Naturalmente, tanta ambição corre o risco de se perder algures numa homogeneização de métodos e de estilos capaz de apagar a diversidade regional do vinho. Não é isso que acontece e este é o primeiro elogio que se pode fazer aos titulares do projecto, os enólogos João Silva e Sousa e Francisco Baptista, e ao empresário com ligações à marinha mercante Manuel Dias.
De todos os vinhos da Lua Cheia, os mais conhecidos são os tintos do Douro, quer o Andreza, quer o que ostenta no rótulo da casa. São vinhos sonantes, com personalidade e carácter que os afirmam entre o que de melhor se faz na nova geração de produtores no vale. A estreia alentejana, 2013, com o Álbum, é justa e acertada – ver nota nesta página. Depois, há a aventura nos Verdes, iniciada em 2011, que se exprime num Alvarinho, o Nostalgia, mais propenso ao volume de boca e à marca da fruta do que à mineralidade, o Touças, outro Alvarinho, o Salsus, um Verde de gama mais baixa dedicado aos que trocam a melosidade pela acidez, e o Maria Papoila que nos traz aqui.
O que se espera num Verde? Originalidade dos aromas da região e aquela acidez vibrante que o torna fresco e atraente. Este, vinificado com um lote de Loureiro com um terço de Alvarinho, tem esses dois atributos, mas tem mais: um volume de boca muito interessante e um balanço muito bem conseguido. É um Verde de boa estirpe, com intensidade aromática, bom impacte na boca e uma marca de frescura que fica muito bem nesta época e o recomendam para pratos de peixe e marisco. Um bom testemunho do excelente trabalho que a Lua Cheia está a fazer nas regiões onde actua.