Quem compra um vinho branco novo o que procura é, acima de tudo, fruta e frescura, pelo que é com alguma perplexidade que, ao cheirarmos este branco da Quinta da Terrincha, somos confrontados com uma quase neutralidade aromática, desarmante para um branco feito de Rabigato e Viosinho proveniente de zonas altas e frescas da região. Em vez de fruta, encontramos algumas notas de natureza mineral. Na boca, o vinho mostra corpo, sugere até ter estagiado em barrica (passou apenas por inox) e termina com uma acidez pungente que lhe dá um lastro notável. 

Mas qual é o segredo deste vinho? Fermentação maloláctica (transformação do ácido málico em láctico, a chamada segunda fermentação, depois da alcoólica). Tirando alguns produtores de Chardonnay na Califórnia ou em Champagne, é raro fazer-se fermentação maloláctica nos brancos (ela é evitada, sobretudo, com a adição de sulfuroso). Nos tintos, é quase obrigatório fazer maloláctica. Nos brancos, pode ser um tiro nos pés, uma vez que um dos pilares destes vinhos é a acidez, e com a maloláctica a acidez cai bastante. E caem também os aromas primários das uvas. Em contrapartida, a maloláctica pode acrescentar complexidade ao vinho e, nos casos de a acidez ser muito elevada, torna-os mais macios, uma vez que o ácido láctico é mais suave do que o ácido málico.

O enólogo da Quinta da Terrincha fez maloláctica porque dispunha de um lote com uma acidez altíssima (cerca de 8 gramas por litro) e um pH muito baixo, um verdadeiro achado no Douro. Sem maloláctica, ficaria um vinho cortante. Como está, continua a ser difícil para muita gente. Mas, para quem gosta de vinhos com boa acidez e sem excessos de fruta, é magnífico. E, embora nesta fase esteja um pouco desequilibrado (por causa da tal questão aromática), tem tudo para daqui a uns anos revelar-se uma belíssima surpresa, quando começarem a surgir os aromas de evolução.