Há certas castas que parecem ganhar vida com a chegada do calor, tornando-se quase omnipresentes na nossas mesas. O Alvarinho é uma delas. Podemos beber vinhos de Alvarinho todos os dias do ano, mas é nos dias quentes que eles mais apetecen, pela sua exuberância aromática e, sobretudo, pela sua frescura. Em contrapartida, a casta Viognier requer dias mais frescos e comidas mais substanciais, dado originar vinhos muito alcoólicos e contidos de acidez. 

Podíamos acrescentar à lista de variedades com perfil de Verão também o Moscatel, o Arinto, Loureiro, o Avesso, o Fernão Pires, a Maria Gomes, a Bical, a Vital, o Cerceal, e por aí adiante, mas ficamo-nos apenas por mais uma: o Encruzado, a grande casta branca do Dão. Embora não possua a amplitude e o impacto do Allvarinho, é uma variedade muito elástica (produzindo bons resultados quer em inox, quer em barrica), superdelicada e de grande equilíbrio. Os melhores vinhos podem durar décadas (algo que os Alvarinho não conseguem), mas não precisamos de esperar por eles muito tempo. Os brancos de Encruzado bebem-se muito bem em novos. 

No Dão, a maioria dos produtores emparelha o Encruzado com a Malvasia Fina. A combinação resulta muito bem, porque a Malvasia dá lastro ao lote sem hipotecar a delicadeza e a frescura do conjunto. Um bom exemplo deste virtuosismo é o vinho desta semana, o Titular Encruzado-Malvasia Fina 2014, do projecto Caminhos Cruzados. Assinado por Carlos Magalhães e Manuel Vieira (um dos enólogos que melhor trabalhou e desenvolveu o Encruzado, enquanto responsável pela Quinta dos Carvalhais), é um branco de uma harmonia e delicadeza admiráveis. Cheira e sabe muito bem (citrinos e fruta branca tipo maçã) tem frescura, não cansa, apetece beber. Isto é o que se chama um vinho muito bem feito, um vinho de grande equilíbrio e com uma beleza e uma vivacidade muito estivais.