Um vinho do qual se produziram apenas 450 garrafas só pode ter um carácter experimental. E o que a experiência da Adega Cooperativa de Favaios nos revela com este Grande Reserva Bruto de 2006, feito a partir da casta Moscatel, é que há aqui um promissor caminho a fazer. Porque se até agora os espumantes com a chancela de Favaios se mostravam capazes de disputar a liga das gamas médias, com este bruto fica-se com a certeza que há ali matéria-prima, saber enológico e estratégia empresarial para outra ambição.
As uvas que estão na origem deste vinho foram colhidas no planalto da zona de Favaios, entre 500 e 600 metros de altitude, entre vinhas nas quais o Moscatel Galego é há décadas a principal variedade. Para as trabalhar, a cooperativa pôde recorrer à adega de ponta que construiu na década passada e, pormenor determinante, à consultadoria do enólogo Celso Pereira, autor dos magníficos Vértice produzidos a escassa distância de Favaios.
Mas sobra ainda um contributo para o perfil deste vinho de enorme importância: a capacidade e estabilidade financeira da cooperativa, que se pode dar ao luxo de ensaiar a produção de vinhos ao longo de quase uma década.
A verdade é que este espumante é um vinho magnífico. Que se mostra com as suas notas intensas de padaria, fruta já envolta nos aromas de garrafa, bolha fina, num conjunto muito elegante e sofisticado. Na boca mostra uma excelente mineralidade e um volume bem proporcionado.
O que mais o destaca, porém, é a sua vibrante acidez e secura do final da boca, que o tornam particularmente fresco e lhe concedem identidade. Longo, intenso na sua precisão e conceito (está longe de ser um esplendor de complexidade), com raça e carácter, é um espumante que merece a melhor atenção.