Os tintos portugueses mais pontuados pela crítica são quase sempre exuberantes de aroma e sabor, muito encorpados, extraídos, densos e com um volume acima dos 14%. Um vinho mais aberto de cor, fino, delicado e contido de álcool pode colocar de joelhos alguns enófilos, mas é raro atingir grandes pontuações.
O fenómeno até se compreende. Um vinho muito estruturado e sensorialmente rico causa um maior impacto inicial e promete envelhecer melhor. Em teoria. Há muitos exemplos de vinhos que contrariam esta ideia. Tintos da Bairrada com 12% de álcool, que no início deviam ser imbebíveis, por causa da sua elevada acidez e violência tânica, ficam assombrosos ao fim de 20 ou 30 anos em cave. E os vinhos mais delicados do Dão também já deram provas de de ganharem muito com o tempo.
Vem isto a propósito do tinto Vale da Mata Reserva 2011, um vinho da zona de Leiria (das Cortes, de uma encosta da serra de Aire) produzido pela alentejana Herdade do Rocim. No portefólio da casa, o vinho de topo é o Grande Rocim Reserva — um tinto poderoso, que se encaixa no perfil que mais agrada à crítica — mas o vinho mais digestivo da empresa, o que melhor se bebe, é, para nós, o Vale da Mata Reserva.
O Grande Rocim é um vinho magnífico, que quase se mastiga, mas, embora seja bastante especiado e possua uma boa acidez, tem 15,5% de álcool — e isso pesa. O Vale da Mata não é um vinho fino, nem aberto de cor, mas também não é nenhuma bomba. Tem 13,5% de álcool e cativa-nos com a sua maravilhosa frescura. Lote de Touriga Nacional e Tinta Roriz, este 2011 é um tinto de grande equilíbrio, sem excessos de fruta ou madeira, aromaticamente muito rico (fruta, especiarias, algumas notas químicas de evolução) e com excelente sapidez e amplitude. Possui nervo tânico e deixa-nos a salivar com o seu frescor atlântico. Não sabemos se vai durar muitos ou poucos anos, mas agora está delicioso.