Sozinha, dá muitas vezes origem a vinhos excessivos, desequilibrados, quase unidimensionais na sua concentração, estrutura, cor e fruta. No Douro e, principalmente, no Dão, há, ainda assim, bons exemplos da aptidão da Touriga para fazer grandes vinhos varietais. Mas não só. Também no Alentejo a Touriga pode fazer valer por si só todas as suas enormes potencialidades. Este Cortes de Cima de 2012 está aí para tirar todas as dúvidas.
A última vez que a empresa de Hans Jorgensen se tinha dedicado a produzir um Touriga Nacional foi em 2008. Este longo hiato pode querer dizer o que já é evidente entre os viticultores e os enólogos: nem todos os anos são bons para dar resposta aos caprichos da casta. Sabendo-se do rigor com que a Cortes de Cima escolhe os vinhos que lança, seria de esperar, por isso, que este Touriga Nacional cumprisse os melhores pergaminhos da casta. Foi exactamente isso que aconteceu.
Em causa está, de facto, um vinho muito interessante e atraente. Os seus aromas florais e de amora preta estão bem enquadrados na tosta da barrica, a sua estrutura sólida ampara na boca notas de fruta e especiaria. No seu conjunto, este vinho é um primor no balanço e um atestado de complexidade. Por comparação com os Touriga Nacional clássicos do Dão ou do Douro, é um vinho mais contido, menos exuberante, mais linear até. Mas é exactamente essa depuração, essa precisão que dispensa artifícios, que o tornam tão guloso e ajustado à companhia da comida.
Bebe-se já, mas mais alguns anos de garrafa hão-de acentuar ainda o seu carácter e a sua propensão clássica. Um vinho delicioso.