O problema é que os vinhos não se fazem com uma simples equação matemática. Há infindáveis varáveis que interagem na sua composição e nem sempre 1+1 dá 2. Por vezes, até dá 0.
Se os vinhos se fizessem no papel, seria tudo muito fácil, mas também terrivelmente maçador. Um dos maiores encantos do vinho está na sua imprevisibilidade. Por muito que possamos controlar o processo de produção, vamos sempre depender de uma certa aleatoriedade da natureza. Por isso é que são merecedores dos maiores elogios e distinções todos aqueles produtores que conseguem ano após ano fazer sempre grandes vinhos.
O projecto Adegamãe, que só arrancou no início desta década, ainda não teve tempo para mostrar essa consistência. Na verdade, os seus mentores, a família proprietária do bacalhau Riberalves, e os enólogos responsáveis, Anselmo Mendes e Diogo Lopes, têm passado estes primeiros anos a estudar o comportamento das diferentes castas plantadas. A cada vindima surgem novos monovarietais no mercado e novas propostas de blend para os seus melhores vinhos. O Dory Reserva branco, por exemplo, sofreu quase uma volta de turca. O 2012 foi feito com Viosinho, Chardonnay e Viognier. O 2013, que hoje se propõe, já resultou de uma mistura de Viosinho, Chardonnay, Arinto e Alvarinho.
Os ganhos são enormes. O 2013 está menos alcoólico e menos marcado pela madeira. O Viognier dava madureza a mais; em contrapartida, o Arinto e o Alvarinho vieram trazer mais fruta cítrica, mais nervo e frescor, equilibrando bem a gordura e o volume do Viosinho e do Chardonnay. A soma, neste caso, é mesmo virtuosa. O vinho tem grande harmonia, complexidade e frescura, com a fruta bem definida e a madeira bem casada. Muito bom.