A adega de Favaios é uma das poucas cooperativas durienses que têm sabido adaptar-se aos desafios do mercado e resistido ao definhamento de um modelo de associação de produtores liderado durante muito tempo por gente “importante” mas impreparada e com pouco sentido democrático. A maioria ou já fechou as portas ou está moribunda. E embora haja milhares de viticultores com vindimas por receber, não há notícia de um só presidente de cooperativa que tenha sido condenado judicialmente por conta dos seus abusos e desvarios.
Em Favaios também se cometeram erros. Mas, sobretudo na última década, com a aposta numa gestão mais profissional, a cooperativa tem vindo a ganhar solidez e a reforçar o nível qualitativo dos seus vinhos. Isso é particularmente notório nos vinhos tranquilos e nos espumantes, que estão a ganhar cada vez mais espaço no portefólio da adega, ainda demasiado dependente da casta Moscatel Galego.
Viver muito dependente de uma só casta tem riscos, mas o lado bom é poder seguir o caminho da especialização e produzir vinhos únicos e distintos. Vinhos, por exemplo, como o Adega de Favaios Moscatel Colheita 1999, que acaba de ser lançado. O último Colheita que tinha chegado ao mercado foi o de 1989, bastante bom mas sem fazer esquecer o extraordinário 1980. Este 1999 talvez também não o supere, mas é um Moscatel formidável, de grande amplitude sensorial. O seu bouquet faz lembrar conhaques velhos. As notas originais da casta (cítricas e florais) surgem agora bem enriquecidas pelo álcool e pelo estágio em barrica. Na boca mostra-se menos “quente”, beneficiando de uma delicada frescura cítrica, que ajuda a realçar a sua textura gorda e melada. É um vinho que não deixa apenas os lábios colados de doçura, deixa também uma impressão muito viva e gostosa na memória.