Frescura, acidez, algo que espevite o vinho, que lhe dê comprimento, que lhe realce os seus aromas e sabores. A acidez é a espinha dorsal de qualquer vinho, seja tranquilo doce ou fortificado. Mas a acidez por si só não faz um bom vinho, tem que estar em equilíbrio com os restantes elementos.
É por isso que para muitos produtores de vinho verde o santo graal é o calor, sem o qual as uvas amadurecem pouco e ficam demasiado verdes e ácidas. Em contrapartida, um produtor do Douro ou do Alentejo suspira por frescura, para suavizar a excessiva madureza das uvas.
No fundo, o que todos buscam é equilíbrio, harmonia, que é precisamente o que se encontra no vinho desta semana, o Valle Madruga Colheita Seleccionada 2014, um branco da zona de Valpaços, Trás-os-Montes. Mas é também o que falta aos dois principais vinhos desta marca, o Quinta Valle Madruga Reserva 2014, com estágio em barrica, e o Vale Madruga Viosinho 2014. Os 14% de álcool que ambos têm são excessivos e tornam a prova de boca pesada e desequilibrada, face à ausência de frescura. Precisavam de mais acidez para suportar o peso do álcool — ou então ter menos álcool, o que se consegue vindimando mais cedo.
O Colheita Seleccionada só tem menos 0,5% de álcool, mas é bastante mais fresco e definido, conjugando o seu bom volume com uma boa frescura cítrica (fornecida pelo Gouveio, sobretudo). A fruta (cítrica e branca) surge mais limpa e o toque floral fornecido pela Malvasia Fina é gracioso. Ganhou claramente em não ter passado pela madeira, que, quando não é bem assumida, só serve para maquilhar e mascarar os vinhos. Embora seja mais barato do que os outros dois, bebe-se muito melhor.